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O longo janeiro terminou, fevereiro está quase no meio, Carnaval chegando e o ano prontinho para recomeçar. O calorão, as chuvaradas, tudo igual nos trópicos, embora 2023 prometa ser um tempo de mudanças ou de recuperações. Depois de quatro anos de uma política alinhada à extrema direita, estudiosos, em conversas como a socióloga Eliana Pszczol e a jornalista Heliete Veitsman, ponderam sobre a possiblidade de fortalecimento de ideologia fascista no Brasil em (Neo)Nazismo, um risco atual (Numa Editora, R$ 68).
Para os doze entrevistados, acadêmicos com formação nas principais instituições universitárias do país, embora desestruturado como política partidária, as bases do pensamento fascista se espalharam no Brasil, ampliando comportamentos racistas, homofóbicos e de combate aos direitos humanos das minorias. O apoio a práticas preconceituosas por muitos dos participantes da administração que chegou ao poder em 2018 é identificada claramente por esses pensadores em gestos que simbolizam o fascismo, no hábito de ingerir leite em lives ou quando o ex-secretário nacional de Cultura usou trechos de um discurso do ministro de propaganda da Alemanha nazista para anunciar o programa da pasta. Sinais combinados à agressividade de adeptos de segregacionismo em todos os campos, no entanto, estão ainda longe de significar um nazifascismo nos moldes tradicionais, dizem muitos dos analistas. Mesmo assim, eles alertam para o perigo de que tais ondas retrógradas se solidifiquem entre os brasileiros.
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O reducionismo puritano dos neoconservadores impede novos olhares para situações moralmente ou sanitariamente incomuns. Tanto que livros sempre são alvos de censura dos regimes autoritários. Em momento democrático, refletir sobre a quebra de convenções na representação literária é pretexto para fuçar alguns sebos virtuais e encontrar pequenas preciosidades que discutem tabus. Lançado em 2003, quatro anos antes da britânica Doris Lessing ganhar o Nobel de Literatura, As avós (Companhia das Letras, R$ 34), teve uma adaptação para cinema com as belas Naomi Wolf e Robin Wright interpretando duas amigas cuja interdependência é tão grande que se envolvem romanticamente com os filhos uma da outra. As relações praticamente incestuosas acontecem com naturalidade para as duas mulheres maduras, que aceitam, sem qualquer culpa ou reconhecimento de projeção, essas paixões. A própria autora teve uma vida pouco convencional, deixando filhos com o ex-marido e abraçando a militância artística e política sem remorsos. Duas décadas após a primeira publicação, a novela permanece intrigante, atual e incômoda.
Mal-estar curioso também provoca a abordagem quase onírica da doença mental apresentada pelo francês Olivier Bourdeaut em Esperando Bojangles (Autêntica, R$ 52,90). Um casal apaixonado e extravagante apresenta ao filho único, criança, uma vida de festas incessantes até que a mãe é internada para se tratar de transtornos – aparentemente, bipolaridade. O entusiasmo arrebatador da mãe contagia quem a cerca e encanta o menino, narrador de situações insólitas enfrentadas pela família de maneira lúdica, apesar da gravidade do quadro de saúde. Best-seller internacional, o romance de estreia de Bourdeaut, publicado em 2017, também teve adaptação cinematográfica, estrelada por Roman Durys e Virginie Efira.