Os estudiosos do carnaval e os admiradores da São Clemente gostam de contar que essa escola de samba, uma das mais simpáticas do Rio, nasceu de uma brincadeira de jovens do bairro de Botafogo, jogadores de futebol. O time se chamava São Clemente Futebol Clube, em uma homenagem à rua, e o grupo estava prestes para viajar para um jogo no interior quando Ivo da Rocha Gomes avistou duas barricas vazias de uva na porta de uma quitanda. Viraram instrumentos de percussão de uma animada batucada. Era o ano de 1951.
Naquele momento Ivo decidiu criar um “bloco de sujo” para desfilar no Carnaval de Botafogo com as cores do time, azul e branca. Os primeiros ensaios foram no estacionamento de uma loja de autopeças na São Clemente, iluminados por gambiarras. João Marinho e Aílton Teixeira também ficaram conhecidos como fundadores da escola de samba. O primeiro desfile foi em 1952.
Com a dedicação e a garra de muitos moradores do morro Dona Marta, a São Clemente desperta muita simpatia e empolgação quando desfila, mas sua melhor colocação no Grupo Especial do Carnaval foi o 6° lugar em 1990, com o enredo “E o samba sambou”. A São Clemente costuma apresentar desfiles com críticas bem humoradas.
Renatinho: na luta desde os 10 anos
A sede da São Clemente como instituição sempre esteve no bairro de Botafogo, mas a quadra para ensaios da escola está na Avenida Presidente Vargas, na fronteira do Porto Maravilha, quase em frente à sede da Prefeitura do Rio. Os enredos de natureza mais panfletária na década de 80 inspiraram a alcunha de “PT do samba”.
Um dos grandes nomes da escola é Renato de Almeida Gomes, filho do fundador. Renatinho, como é conhecido, participa ativamente dos desfiles da agremiação desde os dez anos de idade. Já participou da comissão de frente, da ala, foi diretor de bateria, batizada de “Bateria Fiel”, durante 17 carnavais, diretor de esporte e vice-presidente até chegar a presidência em 2002. Na sua gestão, iniciada em 2002, a escola conquistou três dos seus cinco títulos, em 2003, 2007 e 2010.
Reproduzimos aqui a letra o samba de 1952, de Nelson Escurinho, quando o bloco desfilou pela primeira vez:
Vamos cantar à melodia
Trazida do meu coração
Vamos esquecer a tristeza cruel da desilusão
Da melodia fiz um poema
Que canto nas noites de solidão
Eu era tão feliz
Vivia na maior desilusão
Hoje não me resta mais nada
Só existe no meu coração
E neste samba que é um poema
Que canto nas noites de solidão