Foz do Amazonas é alvo da exploração petrolífera em leilão da ANP | Diário do Porto


Cidadania

Foz do Amazonas é alvo da exploração petrolífera em leilão da ANP

Instituto Internacional Arayara diz que houve “meia vitória” dos ambientalistas, pois, dos 118 blocos litigiosos, só 23 foram vendidos

17 de junho de 2025

Representantes indígenas participaram de manifestações contra o leilão de áreas de petróleo realizado no Rio pela ANP (foto: Arayara / Enrico Marone)

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A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou nesta terça-feira (17) o leilão de 34 blocos exploratórios de petróleo e gás, dos 172 que estavam em oferta no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC). A bacia da Foz do Amazonas concentrou a maioria, com 19 blocos arrematados, reacendendo debates ambientais e mobilizações de organizações da sociedade civil.

Arayara diz que houve “meia vitória” dos ambientalistas

Com blocos distribuídos por cinco bacias sedimentares (Foz do Amazonas, Santos, Pelotas, Potiguar e Parecis), o leilão ofertou uma área total de 145,6 mil km², equivalente a 1,7% do território nacional. Apenas 20% dos blocos foram arrematados, o que, segundo o Instituto Internacional Arayara, representou uma baixa adesão do mercado frente à quantidade disponível.

Com os 19 blocos arrematados na Foz do Amazonas, a área concedida para exploração na região salta de 5,7 mil km² para 21,9 mil km². É a primeira vez desde 2003 que a União oferta blocos na região.

A presença de blocos nessa área intensificou os protestos de ambientalistas e comunidades indígenas. Segundo o diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno, houve uma “meia vitória” do movimento socioambiental: “Após intensa mobilização da sociedade civil e cinco ações judiciais, houve esvaziamento parcial do leilão. No entanto, as aquisições na Foz do Amazonas e no Alto Xingu mostram que o governo escolheu avançar sobre biomas ultra sensíveis e territórios indígenas”.

Nove empresas levaram os blocos: Chevron, Karoon, ExxonMobil, Petrobras, Shell, Dillianz, Equinor, CNPC e Petrogal. O bônus total de assinatura arrecadado chegou a R$ 989,2 milhões.

Apesar da abertura de novas frentes de exploração, a Arayara celebrou alguns avanços. Nenhum dos blocos sobrepostos a Áreas de Influência Direta (AID) de Terras Indígenas foi arrematado, e também não houve arremates na Bacia Potiguar — que inclui áreas sensíveis como Fernando de Noronha. Dos 118 blocos considerados litigiosos, apenas 23 foram efetivamente vendidos, o que representa um índice de sucesso de 80,5% para os movimentos socioambientais.

Araújo criticou ainda o paradoxo entre o discurso climático do governo e a prática: “Infelizmente, teremos uma COP30 do petróleo no Brasil. O Governo Lula acha que saiu ganhando, mas o clima, os povos dos mares e da floresta saem parcialmente derrotados”.

Arayara participa de mobilização e questionamentos jurídicos

Desde as primeiras horas do dia, o leilão foi acompanhado por protestos em frente ao hotel na zona oeste do Rio de Janeiro, onde o evento ocorreu. Lideranças indígenas, o Instituto Internacional Arayara e entidades ambientalistas realizaram uma manifestação pacífica, denunciando os impactos potenciais da exploração em áreas de alta sensibilidade ecológica, como manguezais e zonas pesqueiras da costa amazônica.

Confira o Diagnóstico do Risco Socioambiental do 5º Ciclo de Oferta Permanente da ANP pulicado pela Arayara em https://leilaofossil.org/

A diretora executiva do Arayara, Nicole Oliveira, também alertou: “Mesmo quando os blocos não incluem oficialmente terras indígenas, eles são desenhados para cercar esses territórios, inviabilizando a vida e a autonomia das comunidades”. Segundo ela, “O Ministério Público Federal do Pará tentou suspender a realização do leilão na Justiça, infelizmente, sem sucesso”.


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