A venda do edifício A Noite, símbolo arquitetônico do Rio, na Praça Mauá, ainda depende da aprovação final do projeto pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional). A incorporadora Azo (novo nome da QOPP) assinou em julho o contrato de compra do prédio da Prefeitura do Rio, mas espera essa aprovação para a concretização do negócio.
Enquanto a transferência do imóvel não acontece, a responsabilidade sobre a segurança e a manutenção do edifício continua sendo da Prefeitura do Rio, por meio do Fundo Imobiliário da empresa municipal CCPar (Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos). É esse fundo que mantém no A Noite a equipe que cuida do prédio. Esses brigadistas são os mesmos que trabalham no local, desde que o mesmo deixou de abrigar órgãos públicos, há dez anos.
O Fundo Imobiliário foi peça fundamental para viabilizar o negócio com a Azo, fornecendo condições alongadas de financiamento dos R$ 36 milhões cobrados pela venda do prédio, que durante muitas décadas abrigou órgãos públicos federais. Ao mesmo tempo, o Fundo garantiu para a incorporadora que o pagamento financiado só se iniciará após as aprovações dos órgãos do patrimônio histórico. Na semana passada, essa aprovação já ocorreu junto ao IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade), de âmbito municipal. Resta agora a manifestação do Iphan, sem prazo para acontecer.
A Azo apresentou um projeto para transformar o A Noite em prédio residencial contemporâneo, com 447 unidades de moradia. A proposta prevê ainda um restaurante em sua cobertura e um museu da Rádio Nacional, preservando o auditório e o estúdio que ainda existem no edifício. Os dois espaços serão de acesso público, com elevador exclusivo, o que deve transformar o A Noite em uma nova atração turística da cidade. É esse o projeto que aguarda aprovação final do Iphan.
A Noite foi a sede da Rádio Nacional por 76 anos
A venda do A Noite para a Azo é o final de uma longa trajetória que começou com a saída de órgãos do Governo Federal do prédio, em 2012, incluindo a histórica Rádio Nacional. No início, havia a intenção de esvaziar o edifício para reformá-lo e posteriormente promover a volta da ocupação por órgãos públicos, mas depois optou-se pela venda, o que foi tentado com vários fracassos, até que em maio passado a Prefeitura do Rio adquiriu o prédio da União, com a intenção de revendê-lo.
A Noite, em foto ainda com o letreiro do jornal
O A Noite teve sua construção finalizada em 1929 e recebeu o nome oficial de edifício Joseph Gire, em homenagem ao arquiteto que o concebeu, o mesmo do Copacabana Palace. Seu nome popular é devido a ter sido inicialmente a sede do jornal A Noite, que ostentava um grande letreiro em sua fachada. A partir de 1936, ele se tornou a casa da Rádio Nacional, o mais importante veículo de comunicação do país até o final dos anos 1950. Nos anos 1940, o prédio, que era privado, foi incorporado ao patrimônio da União.
Com seus 22 andares e 102 metros de altura, o A Noite foi por muito tempo o mais alto prédio do Rio de Janeiro e um dos maiores da América Latina. Suas linhas retas e seus ornamentos externos fazem dele um dos marcos do estilo art déco no Brasil. Nos anos em que ficou sem ocupação, cresceu o temor pela sua preservação, havendo ainda hoje a preocupação de que não seja vítima do descaso que já afetou outros monumentos históricos, como o Museu Nacional, incendiado em 2018.
Consultados sobre a situação atual da venda do A Noite, a Prefeitura do Rio e a incorporadora Azo enviaram posicionamentos ao DIÁRIO DO PORTO. As íntegras seguem abaixo:
Posicionamento da Prefeitura, feito por meio da CCPar:
“A Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar) informa que o edifício Joseph Gire (A Noite) foi vendido em julho deste ano para a Azo (na época QOPP). A Prefeitura comprou o A Noite da União quatro meses antes, em março. No contrato de venda para a Azo ficou acertado que os pagamentos só iniciariam após período de diligência que inclui alguns procedimentos burocráticos como, por exemplo, o licenciamento. O projeto já foi aprovado na semana passada no Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e agora segue para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Neste período, a Azo pagou pelo Laudo Estrutural do prédio e a segurança e manutenção do imóvel segue normalmente com a mesma equipe que atua no local há anos – agora a cargo do Fundo Imobiliário da CCPar durante este período de diligência (previsto no contrato de venda).”
Posicionamento da Azo:
“A incorporadora Azo (que assinava com a marca QOPP, anteriormente) informa que o processo de aquisição do icônico edifício Joseph Gire, mais conhecido como “A Noite” está em fase de diligências jurídicas para que então possa ser concretizado.
O edifício tem uma importância ímpar para o Rio de Janeiro, por isso, estamos trabalhando com zelo para que o “A Noite” viva novamente os seus grandes dias. Em breve, apresentaremos o projeto de revitalização do edifício, assim como o cronograma de lançamento e obras.
Para Azo, é uma grande honra participar da revitalização e recuperação do primeiro arranha-céu na América Latina, bem como do projeto Reviver Centro, que tem como propósito promover a recuperação urbanística, social, econômica e cultural da região central da cidade.
Com 20 anos de mercado, a Azo (antiga marca QOPP) se orgulha de uma história pautada em qualidade, confiança e relacionamento com pessoas. Para nós, morar é negócio sério, por isso, a empresa cuida de toda a jornada, promovendo soluções que traduzam seus valores em empreendimentos cuidadosamente desenvolvidos. Cultivamos a sensibilidade de entender as necessidades das pessoas hoje e no futuro e vamos além do escopo tradicional da incorporação.
A natureza é nossa grande fonte de inspiração; valorizamos essa interação com equilíbrio e respeito ao planeta e priorizamos práticas sustentáveis desde o nascimento dos empreendimentos para que agreguem práticas e recursos que os tornem reconhecidos e certificados internacionalmente.”