Painel de Ziraldo se deteriora nas ruínas do Canecão | Diário do Porto


Arte

Painel de Ziraldo se deteriora nas ruínas do Canecão

Ziraldo pintou a obra em 1967 no Canecão, que durante anos foi a principal casa de shows do Rio, até ser fechado pela UFRJ e virar ruínas

12 de abril de 2024

Ziraldo mostra seu painel no Canecão, durante visita em 2015 (foto: Agência Brasil / Fernando Frazão)

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Quatorze anos após ser fechado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Canecão, agora em ruínas, ainda guarda vestígios do maior painel pintado por Ziraldo, o grande artista brasileiro morto no último dia 6. A obra, realizada por ele em 1967 quando o local era a principal casa de shows da cidade, sofre com o abandono.

Ziraldo, que morreu aos 91 anos, esteve no local em 2015, quando a então reitoria da UFRJ prometeu restaurar e preservar o painel, que o artista considerava como uma das principais obras de sua vida. O tempo passou e nada foi feito. A pintura tinha originalmente seis metros de altura e 32 metros de largura, retratando cenas da vida dos cariocas nos bares, numa mistura de temas e figuras que sintetizam um pouco da cultura da cidade.

Naquela visita, o artista ficou emocionado ao constatar a deterioração do painel e ter a promessa de que ele mesmo, pessoalmente, poderia acompanhar os trabalhos de recuperação. 

O Canecão, que foi palco de shows antológicos da música brasileira e internacional, era um empreendimento privado que funcionava em área da UFRJ. Gerava dezenas de empregos e era um ponto turístico da cidade, com reputação internacional. A Universidade conseguiu expulsar o empresário que comandava a casa de espetáculos em 2010, após uma disputa judicial e apresentando propostas para a continuidade do local como um centro cultural, mas isso nunca chegou a se tornar realidade.

Ziraldo fez o painel em seis meses, em noitadas com amigos

O mural de Ziraldo foi realizado ao longo de seis meses de trabalho, em 1967, com jornadas que começavam por volta das 21h e iam até de madrugada. O artista contava que vários amigos iam visitá-lo durante o trabalho e muitos colaboraram com pinceladas de cores, preenchendo os espaços entre as linhas do desenho que eram feitas pessoalmente por ele. Os amigos e ele faziam noitadas em meio a andaimes, escadas e latas de tinta, abastecidos por garrafas de whisky fornecidas pelo dono do Canecão. 

Atualmente, segundo o documentarista Guga Dannemann, que fez o filme “Ziraldo, uma obra que pede socorro” (2020), só sobram 30% do painel original.  

No ano passado, a UFRJ anunciou a concessão do novo Canecão, por R$ 4,35 milhões para o consórcio Bonus-Klefer, que assumiu a responsabilidade de construir um novo prédio até 2025.  O projeto prevê um espaço multiuso de 15 mil metros quadrados com estrutura para shows, musicais e peças de teatro. A nova casa deverá ter capacidade para três mil espectadores. O pacote inclui também a restauração, enfim, do painel de Ziraldo, mas até agora não se vê nada acontecendo no local.


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