Passou a Noite das Bruxas, o Halloween, como ficou no passado meu tempo de ler Stephen King e Lovecraft. Naquela época, coragem não me faltava para encarar histórias atemorizantes. No entanto, tudo se acabou quando me obriguei a concluir a leitura de A outra volta do parafuso (Lafonte, R$ 18,50), de Henry James, na claridade do dia e cercada por outras pessoas, na sala da casa de meus pais. Nem os alucinados personagens de Edgar Allan Poe me impressionaram tanto quanto os fantasmas pérfidos, assombrando criancinhas, de James. Bem diferentes dos encostos que Hillary Mantel criou no sensacional Além da escuridão (Bertrand Brasil, R$ 39), em que uma médium convive com espíritos incômodos, mas nem sempre amedrontadores. Voltei a ler livros de “almas de outro mundo”, como dizia uma antepassada minha, quando Rosa Amanda Strauzs lançou o delicioso A cabeça cortada de Dona Justa (Rocco, R$59.90), que, diante da familiaridade brasileira com seres do além, tem espíritos incorporados à rotina das personagens.
Ao distanciamento das histórias de fantasmas correspondeu minha aproximação das novelas policiais, cuja leitura me acompanha fora de qualquer data alusiva a terrores. Semana passada, para fazes jus à época macabra, busquei histórias de suspense bem arrepiantes, embora, na maturidade, dificilmente o gênero ainda me surpreenda. Foi o caso de Noite sem fim (L&PM, 54,90), lançada por Agatha Christie em 1967, com muita semelhança a histórias anteriores, tornando fácil imaginar quem é o criminoso. Uma jovem milionária se casa com um bon vivant, com quem decide construir uma casa moderníssima no terreno anteriormente usado como acampamento de ciganos. Embora uma velha cigana tenha advertido o casal sobre os perigos que advêm para quem se instala na região, eles insistem em se mudar para a região, iniciando uma série de acontecimentos trágicos.
Um dos mais populares modelos de história de suspense é entremear acontecimentos do passado com a atualidade, mostrando semelhanças em crimes e mistérios. Um dos melhores exemplos está na obra de Charlie Donlea, que só em em sua estreia literária, em 2016, com A garota do lago (Faro Editorial, 19,90), vendeu 300 mil exemplares vendidos – apenas no Brasil. Seu oitavo romance é Sussurros no passado (Faro Editorial, R$ 69,90), no no qual uma médica patologista descobre que é a única filha de um casal desaparecido nos anos 1990. Alguém entregou a bebê, que acompanhava os pais, para a adoção. A família biológica a recebe com carinho, mas guardam muitos segredos que a protagonista precisará descobrir.
Trilhando caminho semelhante, a norte-americana Ashley Flowers, já tem três novelas de suspense lançadas nos EUA. A primeira, Todas as pessoas boas daqui (Faro Editorial, R$ 55,90), segue a fórmula consagrada de emaranhar ações do presente com o passado para desvendar um crime, no caso, o desaparecimento de uma criança, muito semelhante ao que aconteceu com uma menina, vinte anos antes. Uma jornalista desempregada começa a investigar os dois casos até um desfecho surpreendente para um romance de estreia.
Autor de sete thrillers de excelentes vendagens nos Estados Unidos, Riley Sager cria uma ambientação que remonta a cenários criados pelas inglesas Daphne du Maurier e Agatha Christie em O massacre da família Hope (Intrínseca, R$ 69,90), um vira-página hipnotizante. Lenora Hope é a única sobrevivente de uma chacina que matou toda sua família, em 1929. Passados quase sessenta anos, uma jovem é contratada para cuidar da idosa, inválida e muda Lenora, que ainda vive na mansão onde ocorreram os crimes, com alguns empregados. A casa, construída em cima de um penhasco, está com as estruturas abaladas, e dependendo do vento, oscila, ameaçando desabar no mar. Enquanto sobrevive às ameaças de destruição da casa, a jovem cuidadora quer descobrir quem cometeu realmente os assassinatos da família Hope.