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Editorial

O Porto precisa de moradores, não de um estádio

Um novo estádio no Porto vai afastar moradores e não atraí-los, ao trazer para a região a confusão urbana desse tipo de empreendimento

24 de junho de 2024

Um novo estádio, como sabe o prefeito Eduardo Paes, estará a poucos minutos do Maracanã, onde se gastou pelo menos R$ 1,2 bilhão de dinheiro público (foto: Prefeitura do Rio)

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É um completo absurdo o apoio entusiasmado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, neste ano eleitoral, à ideia de se fazer um novo estádio a poucos minutos de caminhada do Maracanã. A Região Portuária, como o próprio prefeito apregoa há mais de dez anos, desde que iniciou seu projeto de requalificação urbana, precisa de moradores para se tornar um polo novo de renda e qualidade de vida na cidade. Não de um estádio para se sobrepor a outro, cuja reforma recente custou aos cofres públicos pelo menos R$ 1,2 bilhão.

Um estádio de futebol no terreno do Gasômetro só vai afastar possíveis moradores da região, quando atraí-los deveria ser a prioridade do poder público. É, portanto, um gol contra a concepção do projeto Reviver Centro, de convencer mais pessoas a morarem na área central da cidade. Os motivos são óbvios, pois os transtornos no entorno desse tipo de equipamento são vários – e velhos conhecidos dos cariocas, por exemplo, no Maracanã e no Engenhão. 

A aglomeração de multidões em dias de jogos atrai o comércio irregular, arruaceiros e flanelinhas sem controle, com a consequente necessidade de operações policiais preventivas e a ausência sistemática da Prefeitura em ações de ordenamento capazes de reduzir o infortúnio dos moradores. 

O novo estádio será, sem dúvida, um polo gerador de muito trânsito na avenida Francisco Bicalho, uma das principais vias de acesso e chegada da Ponte Rio-Niterói. Não é preciso fazer muitos cálculos para se antever congestionamentos e a prática de estacionamentos irregulares em calçadas e vias públicas.

A Caixa Econômica Federal, com a desapropriação de seu terreno para a construção do estádio, terá prejuízo grande e duplo. Pois, se o projeto for à frente, irá desvalorizar os terrenos próximos que a própria Caixa comprou na operação urbana criada para povoar o vazio urbano da Região Portuária. Uma operação que, antes desta mudança de rumo, tinha como meta melhorar a qualidade de vida nos bairros locais para atrair projetos habitacionais. 

Quem tem muitas prioridades não tem nenhuma. A revitalização da área central da cidade não ganha nada com a criação de mais um imenso muro morto de um estádio de futebol. Em bairros distantes desse tipo grandioso de lazer, como Campo Grande ou Santa Cruz, de fato, um empreendimento assim funcionaria como indutor econômico. Já na área central, funcionará como uma sombra do Maracanã, patrimônio público brasileiro que não pode ficar ocioso, sob o risco de se tornar novamente um sugador de recursos públicos para sua manutenção. Um novo estádio tão próximo é um claro concorrente do grande templo Mario Filho. 

O que o carioca precisa para descobrir a área central como um ótimo local para viver é de uma Guarda Municipal mais presente e efetiva, de iluminação nas ruas, de esquinas vivas, padarias, lojas, escolas, comércio de portas abertas. Precisa de ordem para evitar invasões como as da Rua do Livramento e adjacentes. Precisa de feiras, de cultura, de calçadas arborizadas para caminhar. Não de mais um estádio.

A Prefeitura age bem quando tenta abrir os belos armazéns do Porto para que as pessoas cheguem à beira da Baía de Guanabara, conforme o prometido e nunca cumprido. Mas erra feio ao condenar a área do Gasômetro à escuridão típica do entorno de estádios. Não é disso que o Porto Maravilha precisa. Muito menos a cidade do Rio de Janeiro. O correto é torcer para que tudo não passe de um factoide eleitoreiro, pois sua concretização será uma tremenda bola fora.

 


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