Museu Nacional e Notre Dame: abismo entre as elites de Brasil e França | Diário do Porto


História

Museu Nacional e Notre Dame: abismo entre as elites de Brasil e França

Enquanto a Notre Dame mobilizou o empresariado francês, Museu Nacional espera doações. UFRJ nunca valorizou potencial turístico do palácio

28 de janeiro de 2025

Antes da tragédia, a imponência do Museu Nacional (Deposit Photos)

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Seis anos após o incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a reconstrução segue a passos lentos, esbarrando na falta de apoio necessário dos setores público e privado no Brasil. É gritante o contraste com a mobilização em torno da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Enquanto o monumento francês recebeu cerca de 850 milhões de euros (R$ 5,5 bilhões) em doações privadas e reabriu ao público em dezembro de 2023, a recuperação do Museu Nacional depende majoritariamente de recursos públicos e internacionais.

Logo após o incêndio que atingiu Notre-Dame, em abril de 2019, bilionários franceses como François Pinault (Grupo Kering) e Bernard Arnault (LVMH) anunciaram doações de centenas de milhões de euros. Circularam muitas informações sobre doações de 340 mil pessoas de 150 países, entre elas a brasileira Lily Safra, viúva do banqueiro Edmond Safra, com 20 milhões de euros (mais de R$ 100 milhões). A rápida mobilização garantiu que as obras avançassem com velocidade e que um dos maiores símbolos da França fosse devolvido à população em pouco mais de quatro anos.

No Brasil, a história é outra. O Museu Nacional, mais antiga instituição científica do país e maior museu de história natural da América Latina, não recebe um centésimo dessa atenção por parte do empresariado. Apesar de apelos da comunidade acadêmica e cultural, os grandes grupos econômicos permanecem alheios à importância da reconstrução.

Firjan e ACRJ lançaram manifesto pelo Museu Nacional

Diante dessa indiferença, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) lançaram um manifesto conjunto conclamando empresas e cidadãos a contribuírem financeiramente para a restauração do Museu Nacional. O documento enfatiza que a participação da iniciativa privada é fundamental e lembra que existem incentivos fiscais, como a Lei Rouanet, que permitem o abatimento das doações no imposto de renda.

Para Alexander W. A. Kellner, diretor do Museu Nacional, a iniciativa da Firjan e da ACRJ é bem-vinda, mas a falta de engajamento de grandes empresários continua sendo um obstáculo preocupante. “Qualquer estado brasileiro adoraria ter um Museu Nacional dentro do seu território. O apoio da iniciativa privada é essencial para entregarmos o primeiro museu do Brasil de volta à população o quanto antes”, afirmou Kellner.

Museu Nacional: UFRJ não valorizou atração

A verdade, no entanto, é que essa discrepância entre a Notre-Dame e o Museu Nacional reflete também a pouca importância que a própria elite universitária dá ao turismo cultural. Enquanto na França a restauração da catedral foi encarada como uma questão de identidade nacional e atração turística essencial, no Brasil, um dos prédios mais históricos do país segue relegado ao abandono. O Museu Nacional não é apenas um centro de ciência e cultura, mas um marco crucial da História Brasileira. Durante quase todo o Império, foi a residência de Dom Pedro II, o mais longevo dirigente da nação.

O prédio pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que nunca demonstrou apreço significativo pelo potencial turístico do museu. Apesar de sua relevância histórica e arquitetônica, com potencial para figurar entre os pontos turísticos mais cobiçados do continente, não há registros de qualquer esforço concreto por parte da universidade para impulsionar o museu como um destino turístico de grande porte. A falta de visão estratégica para o turismo cultural, tanto por parte das autoridades quanto do setor privado, mantém o Brasil distante do reconhecimento global que sua história e patrimônio poderiam alcançar.

A íntegra do manifesto pode ser acessada nos sites da ACRJ e da Firjan.

 


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