O governo federal voltou a ceder ao lobby de setores que defendem o enfraquecimento do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, e anunciou que estuda aumentar o limite de passageiros do Santos Dumont, atualmente de 6,5 milhões por ano. A hipótese de tirar passageiros do Galeão por canetada levanta mais uma vez o debate sobre o futuro dos aeroportos do Rio e do fluxo turístico nacional e internacional no Brasil.
A proposta de tirar voos do Galeão atende aos interesses de companhias aéreas e de aeroportos concorrentes como Guarulhos, em São Paulo, e Confins, em Minas Gerais. Esses aeroportos foram muito fortalecidos com a redução de voos internacionais para o Galeão, que perde a atratividade quando reduz para o passageiro o número de conexões com voos para destinos nacionais. O enfraquecimento do Galeão gera impactos econômicos e logísticos muito prejudiciais à economia do Estado do Rio de Janeiro e de sua capital.
O Galeão é o principal termômetro da economia do estado. Com infraestrutura de classe mundial e capacidade para receber até 37 milhões de passageiros por ano, o terminal passou a enfrentar uma crise em 2014, que foi muito agravada pela transferência de voos e passageiros para o Santos Dumont. A concentração de voos no Galeão é essencial para o turismo internacional, a movimentação de cargas e a integração do Rio com o país e o mundo. Qualquer medida que enfraqueça sua operação ameaça a competitividade do Rio e prejudica sua economia, pois impede a criação de um hub de aviação no Estado.
A Insistência em Favorecer o Santos Dumont
O lobby para aumentar os voos no Santos Dumont é liderado por interesses que visam benefícios pontuais e ignoram os danos estruturais ao Rio de Janeiro. Com localização central e vocacionado para voos domésticos curtos, o Santos Dumont opera atualmente sob uma limitação de 6,5 milhões de passageiros anuais, implementada pelo governo Lula em janeiro de 2024, após um grande movimento que uniu o empresariado e os representantes políticos do Estado. A regra devolveu equilíbrio ao sistema aeroportuário carioca, estimulando a volta de voos e permitindo que o Galeão iniciasse uma recuperação após anos de declínio.
Antes dessa limitação, o Santos Dumont operava com mais de 10 milhões de passageiros anuais, sobrecarregando sua estrutura e impactando negativamente o trânsito e o meio ambiente da região central do Rio. A retomada desses volumes seria um retrocesso e comprometeria tanto a qualidade dos serviços quanto a viabilidade do Galeão, que depende de um fluxo constante de passageiros e cargas para sustentar sua operação.
Oposição Local e Defesa do Galeão
A possível flexibilização para ampliar o número de voos no Santos Dumont volta a enfrentar resistência de lideranças políticas e empresariais no Rio. O prefeito Eduardo Paes foi categórico ao afirmar que a medida “não acontecerá”. Em suas redes sociais, denunciou os impactos ambientais, o caos no trânsito e a ameaça à economia do estado que seriam causados por essa mudança. “O presidente Lula tem enorme respeito pelos interesses do Rio. Não passarão”, reforçou.
Empresários e entidades como a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) também se posicionaram contra a proposta. Segundo essas organizações, as limitações ao Santos Dumont têm sido fundamentais para reequilibrar o sistema aeroportuário carioca, garantindo a retomada do Galeão como um hub internacional.
Para Wagner Victer, engenheiro e conselheiro do Clube de Engenharia, seria “vergonhoso” flexibilizar outra vez as restrições no Santos Dumont. “Estamos colocando em risco uma política pública que trouxe retorno ao turismo e à competitividade do Rio. Esses lobbies inconfessáveis não compreendem que o Governo Federal mudou e que o próprio presidente Lula incorporou a defesa do Galeão”, afirmou.
Impactos do Galeão na Economia do Rio
O enfraquecimento do Galeão seria desastroso para o Rio de Janeiro. Como porta de entrada internacional, o aeroporto é peça-chave para o turismo, um dos setores mais importantes da economia fluminense. Além disso, o terminal é estratégico para o transporte de cargas, viabilizando a exportação de produtos brasileiros e atraindo investimentos.
Desde a implementação do limite de passageiros no Santos Dumont, o Galeão começou a recuperar parte do fluxo de passageiros internacionais, com novas rotas e maior oferta de conexões. Flexibilizar essa política seria um golpe contra o Rio e um presente para estados concorrentes, que se beneficiam da centralização de voos em Guarulhos e Confins.
O Futuro em Jogo
A revisão das restrições no Santos Dumont será avaliada em janeiro de 2025, quando se encerra o ciclo de 12 meses de análise pelo Ministério de Portos e Aeroportos. Até lá, os empresários interessados no desenvolvimento do Rio devem agir com firmeza para evitar que interesses privados e lobbies de outros estados continuem a ditar políticas públicas que penalizem o Rio de Janeiro.