O endereço onde morava Carmem Miranda, no final dos anos 20 do século, passado, no número 13 na Travessa do Comércio, está abandonado e arrisca vir ao chão. O casarão compõe o conjunto arquitetônico da Praça XV, tombado pelo Iphan, e sofreu dois desabamentos no telhado, este ano. A propriedade já tinha passado por vistorias da Defesa Civíl Municipal, e o proprietário já havia recebido notificação.
O edifício foi adquirido em 2011 pela empresa Arilucas, do advogado Alexandre Barreira, por R$ 1,1 milhão, e tem uma dívida de R$ 260 mil de IPTU. Antes, pertencia à Santa Casa de Misericórdia, de quem o advogado cobra R$ 211 milhões na Justiça, por honorários advocatícios. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE) informou em nota que o imóvel está em processo de arrecadação, devido ao mau estado de conservação.
Nas redes sociais, o perfil @RoteirosGeoRio fez uma denúncia, na qual escreveu “Caro prefeito Eduardo Paes, secretário Marcelo Calero e deputado Pedro Paulo, adoraríamos ver aqui o mesmo empenho que tiveram na desapropriação quase imediata do gasômetro para a construção de mais um estádio na cidade. Queremos respostas e, principalmente, preservação! Não à preservação da canetada iludida, que tomba o patrimônio e o ignora até que ele desabe. A real preservação do nosso passado.”
A Defesa Civil Municipal já havia colocado fitas na fachada para alertar sobre o risco de queda de reboco, após ter realizado cinco vistorias, desde outubro de 2023, nos imóveis dos números 9, 11 e 13 da Travessa do Comércio. A casa está isolada desde junho, depois do primeiro desabamento.
Em ofício para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE), a Defesa Civíl já havia solicitado que a secretaria notificasse o proprietário e realizasse análise estrutural dos interiores dos imóveis. A Subprefeitura do Centro e o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) também foram oficiados.
Em nota, a empresa Arilucas informou que o imóvel estava sob posse de uma locatária, que teria contratado uma equipe técnica para fazer vistoria, mas não pode realizar as obras sem autorização do Iphan. A locatária havia se comprometido em protocolar pedido ao órgão, mas diante da gravidade dos fatos, a Arilucas informou que vai assumir as medidas de reparação.
Lar de Carmem Miranda
A cantora se mudou para o segundo andar do sobrado em 1925, junto à irmã, Aurora Miranda, e à mãe, que comandava no local uma pensão de almoço. Foi lá que Carmem Miranda foi descoberta, depois que um português, frequentador da pensão, a ouviu cantar e a levou para conhecer o violinista Josué de Barros, que a apadrinhou. Pouco tempo depois, Carmem começou a se apresentar em estações de rádio e em um festival beneficente no Instituto Nacional de Música. Em 1930, gravou dois grandes sucessos do carnaval, as marchinhas “Iaiá, ioiô” e “Taí”, que garantiu a venda de 35 mil discos logo no primeiro ano, e a fez estourar nacionalmente. Em 1931, já uma estrela, se mudou para uma casa maior em Santa Teresa, com a família.
A Travessa do Comércio é uma das ruas no Centro que mais tem imóveis abandonados. Lá, também morou Machado de Assis, em um casarão vizinho, que hoje se encontra deteriorado, com janelas quebradas e pichações. Não há sinalizações que mostrem que o maior escritor brasileiro viveu por ali.
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