Iguassú Velha cria o sonho da “Paraty da Baixada” | Diário do Porto


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Iguassú Velha cria o sonho da “Paraty da Baixada”

Parque Histórico e Arqueológico de Iguassú Velha: projeto da prefeitura de Nova Iguaçu pode mudar história do turismo na Baixada

12 de janeiro de 2023

Ruínas da antiga Capela de Nossa Senhora da Piedade, em Vila Iguassu, origem de Nova Iguaçu (Foto: Yuri Borba)

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Eliane Lobato

Se existe uma Nova Iguaçu, é porque existiu uma velha. Na verdade, ainda existe. O nome da original é Vila de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú, assim mesmo, com dois esses e acento na última vogal. O lugar tem tudo para renascer dos escombros e se tornar uma joia turística da Baixada Fluminense, com as primeiras inaugurações do processo de restauro e revitalização do Parque Histórico e Arqueológico de Iguassú Velha.

A Vila de Iguassú foi uma das mais prósperas da Província do Rio de Janeiro na década de 1830. Os negócios em lombo de mulas agitavam a Estrada Real do Comércio, que Dom João VI mandou construir em 1811 para subir a Serra do Tinguá até o Rio Paraíba do Sul, por onde chegavam produtos de Minas Gerais. As mulas desciam a serra até o porto da Vila, de onde a mercadoria seguia pelo Rio Iguaçu e pela Baía de Guanabara até chegar à Corte Imperial.

A Estrada Real continua no lugar, com o calçamento de pé-de-moleque que foi reinaugurado em 1842 pelo coronel Conrado Jacob de Niemeyer, do Imperial Corpo de Engenheiros. A decadência da região toda, no entanto, foi sentenciada pelo início da operação, em 1858, da Estrada de Ferro Dom Pedro II (a Central do Brasil), ligando a Corte à Baixada e, posteriormente, a Minas Gerais.

Pestes demoliram vilas

O período de prosperidade da Vila de Iguassú e da Estrada Real do Comércio não teve um final feliz. Os solos foram degradados pelo café, e o assoreamento dos rios criou zonas pantanosas infestadas de mosquitos e doenças que levaram ao despovoamento. O combate às pestes incluiu até a demolição de vilas.

As ruínas, na zona rural da hoje superpovoada Nova Iguaçu, com mais de 800 mil habitantes, estavam abandonadas há muitas décadas. No entorno há muitos sítios, muitos deles dedicados ao cultivo de aipim (a Festa do Aipim acontece em junho), e uma agitação nos fins de semana de pessoas em direção às cachoeiras da Serra do Tinguá.

A decisão da Prefeitura de criar o Parque de Iguassú Velha, com apoio dos governos federal (Iphan) e estadual (Inepac), tem tudo para fazer a região voltar a viver na prosperidade. A ideia é revitalizar as construções, com a reconstrução de casarios para pousadas e comércio.

Paraty da Baixada

A empolgação do secretário de Cultura de Nova Iguaçu, Marcus Monteiro, é tão grande com o projeto que ele já se refere ao complexo de ruínas como a futura “Paraty da Baixada”, uma referência à cidade fluminense que se tornou patrimônio da Humanidade. “Vamos criar um polo turístico da vila com a fazenda. Já licitamos a reconstrução da senzala, e o projeto executivo está para ser autorizado pelo Iphan”, diz o secretário.

É emocionante passear entre ruínas de um lugar que já foi tão próspero e, quase 200 anos depois, acena para um horizonte promissor em uma região tão carente de turismo cultural. A torre da Igreja Matriz já foi recuperada, com contornos em ocre inspirados na tonalidade do barro usado no acabamento da época. A igreja, da qual só restou a torre, começou a ser construída em 1699, uma relíquia do Brasil colonial.

Torre Cineira
A Torre Sineira da antiga Igreja Matriz, na Vila de Iguassú (Foto: Danilo Sérgio)

Naquela época, os mortos eram sepultados dentro de igrejas ou no entorno. Os cemitérios só surgiram por razões sanitárias em meados do século 19. Um dos primeiros foi o da Vila de Iguassú, de 1857. O acesso a ele é feito por uma escadaria que lembra um cenário romano e acaba de ser restaurada, assim como as colunas da entrada e o portão de ferro.

Estrada Real do Comércio

Um segundo cemitério, o da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, também está em fase final de restauração. Ele é de 1875. Após a reconstrução de parte do casario da Vila, onde restaurantes, bistrôs e lojas de artesanato poderão se instalar em parcerias público-privadas, a construção da “Paraty da Baixada” deve seguir para a revitalização da Estrada Real do Comércio, o restauro do porto e do chafariz da Vila.

“Vamos ter um centro de informações no casarão da Fazenda São Bernardino, onde agora vamos começar as obras da senzala. Temos potencial para atrair hotéis, pousadas, como acontece nos mosteiros de Portugal. Se você não der um uso para os lugares, daqui a pouco todo o investimento está arruinado de novo”, diz o secretário de Cultura. De fato, em 1976, a prefeitura de Nova Iguaçu desapropriou a Fazenda São Bernardino, mas nada foi feito, e a degradação só aumentou.

Patrimônio Histórico Nacional

A Fazenda São Bernardino fica entre a Vila de Cava e Tinguá, às margens da RJ-111, a estrada Zumbi dos Palmares, também chamada de Rodovia Federal. É um belíssimo exemplar em estilo neoclássico do século 19. Foi inaugurada em 1875 pelo português Bernardino José de Souza e Melo. Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1951, tinha cavalariças, garagem para carruagens, senzalas, habitações para escravos e engenhos de cana e mandioca. O parecer de tomabmento foi assinado por Carlos Drummond de Andrade, que à época trabalhava no Iphan.

O casarão foi destruído por um incêndio na década de 1980, e hoje quase nada resta da estrutura. A fazenda produzia e exportava açúcar, farinha de mandioca, café e carvão. Se os planos da prefeitura forem concretizados, produzirá empregos no turismo, com um espaço multiuso para atividades culturais e artísticas. A região é inspiradora. A Vila de Iguaçu e a Fazenda São Bernardino ficam na base da Serra do Tinguá, um paraíso de Mata Atlântica com cachoeiras, trilhas e segredos como belos reservatórios de água construídos no período imperial.

  • Baseado em roteiro da Avenida Comunicação para o projeto SESC RJ na Estrada