Marita Boos
As discussões sobre financiamento climático continuam sendo um dos principais temas no cenário global, especialmente após a COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijão. Apesar de avanços significativos, o tema gerou intensos debates e deixou claros os desafios para a próxima conferência, que será realizada em Belém, Brasil, em 2025.
Um dos maiores avanços da COP 29 foi a aprovação da Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês) de financiamento climático no âmbito do Acordo de Paris. O compromisso prevê a mobilização de US$ 150 bilhões anuais a partir de 2025 para apoiar a transição energética e a adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Este acordo substitui a meta anterior, de US$ 100 bilhões anuais, considerada insuficiente por diversos países vulneráveis.
John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para o clima, destacou a importância do novo compromisso: “Este é um passo fundamental, mas precisa ser acompanhado de transparência e eficiência na aplicação dos recursos.”
No entanto, o debate sobre a distribuição desses recursos foi acirrado. Países africanos, liderados por representantes do Quênia e de Uganda, argumentaram que o financiamento precisa priorizar adaptações locais. Já economias emergentes, como Índia e Indonésia, enfatizaram a necessidade de suporte para infraestrutura de energia renovável.
As polêmicas e críticas
A falta de um mecanismo claro para garantir que os recursos cheguem aos países que mais precisam foi alvo de críticas. Organizações como Greenpeace e Oxfam apontaram que muitos compromissos passados relacionados a financiamento climático não foram cumpridos integralmente, gerando desconfiança.
“Sem garantias concretas, há o risco de que essa meta se torne mais uma promessa vazia”, afirmou Jennifer Morgan, ativista alemã e ex-diretora do Greenpeace International. Além disso, ativistas indígenas, como a brasileira Txai Suruí, destacaram a exclusão de comunidades tradicionais dos debates sobre alocação de recursos.
Outro ponto de controvérsia foi a ausência de uma decisão vinculante sobre a eliminação de subsídios a combustíveis fósseis. Enquanto países exportadores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia, defenderam a continuidade desses subsídios, ambientalistas alertaram para o impacto negativo no alcance das metas climáticas globais.
Os desafios da COP 30 em Belém
Com a COP 30 marcada para novembro de 2025 na Amazônia brasileira, as expectativas para avanços concretos em financiamento climático são altas. A região amazônica, que simboliza tanto a riqueza da biodiversidade quanto os desafios das mudanças climáticas, será o centro das discussões globais.
Entre os principais desafios para a COP 30, estão:
- Implementação do NCQG: Garantir que os US$ 150 bilhões anuais sejam mobilizados e distribuídos de forma justa, com mecanismos de supervisão claros e transparência.
- Prioridade para países vulneráveis: Definir critérios objetivos para priorizar nações e comunidades mais impactadas pelas mudanças climáticas.
- Inclusão de atores locais: Ampliar a participação de comunidades indígenas e organizações locais na definição das estratégias de financiamento.
- Transição energética justa: Equilibrar a demanda por energia limpa com a necessidade de evitar impactos sociais negativos nas economias em transição.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou que pretende usar a COP 30 para dar destaque às soluções baseadas na natureza e à necessidade de proteção dos biomas tropicais. “A Amazônia é essencial para o equilíbrio do clima global. Vamos mostrar ao mundo que é possível aliar preservação ambiental e desenvolvimento econômico”, afirmou Lula.
A COP 30 será uma oportunidade para consolidar o papel da Amazônia no debate climático global e, ao mesmo tempo, enfrentar as pendências deixadas pela COP 29. O desafio agora é transformar promessas em ações concretas, garantindo um futuro mais sustentável para todos.