Uma exposição no Centro do Rio, a Crua, abre uma nova maneira de ver a arte, ao exibir o processo de criação de artistas contemporâneos. Na mostra, artistas como Ronald Duarte, Carla Santana, Marcelo Conceição, arorá e Eleonora Fabião, que inauguram o projeto, se apresentam em vídeo, mostram como trabalham e ainda conversam com o público.
A Crua acontece nos dias 28, 29 e 30 de agosto, no espaço independente de arte Abapirá, no Centro do Rio, que já exibe resultados do projeto de revitalização da região, baseado em ações culturais.
Processo criativo
A proposta da Crua é o desejo de aproximar artistas e público. Os idealizadores e diretores do projeto, Ana Pimenta e João Marcos Latgé, explicam que a ideia é eliminar as barreiras conceituais, socioeconômicas e mercadológicas típicas do discurso em arte. Para isso, Crua provoca os artistas participantes a se apresentarem em vídeo da forma que melhor os representa.
O projeto estabelece apenas algumas regras: câmera fixa, centralizada na ação, e duração de dois minutos sem cortes. Os artistas têm liberdade para se expressar da maneira como bem entenderem, sem imposições. Os cenários também são sugeridos por eles: pode ser o ambiente de trabalho ou qualquer outro espaço que lhes seja significativo. Neste conjunto inicial de vídeos, aparecem o ateliê, a rua, a universidade e a casa.
– Para a primeira temporada, convocamos o fogo de Ronald Duarte, a terra de Carla Santana, o ar de Marcelo Conceição, a luz de arorá e a água de Eleonora Fabião – explica João Marcos.
Ana Pimenta antecipa que o trabalho ainda vai abrigar muitos outros artistas:
– Crua pretende ser uma janela para o mundo de cada artista, é um projeto aberto, dinâmico, que permanecerá vivo, após a exposição física, nas plataformas – sustenta.
A exposição será montada de forma ‘instalação’, com cinco telas e uma projeção. No dia 30 de agosto, os artistas e os diretores participarão de uma conversa com o público, às 15h, na qual falarão sobre seus processos criativos e sobre a série.
O resultado do trabalho estará em exibição no espaço Abapirá, no lançamento do projeto, e mais tarde disponível também no YouTube (veja o calendário de exibição ao final da reportagem) .
Os artistas e sua obra
O projeto dirigido por Ana Pimenta e João Marcos Latgé está enraizado em vertentes do cinema documental nacional; nas videocabines de Sandra Kogut, dos anos 1990, que convidava transeuntes a gravarem depoimentos em vídeo; e mais notadamente nos screen tests de Andy Warhol, que, nos anos 1960, filmou seus amigos artistas em estúdio, sempre em close-up frontal e com a duração aproximada de 3 minutos (equivalente a um rolo de filme).
A primeira série do projeto exibe cinco episódios:
EPISÓDIO 1: Ronald Duarte apresenta uma ação inédita realizada no galpão da Escola de Belas Artes da UFRJ, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. A performance é intitulada Oroboro. Nela, o artista desenha e acende um círculo de pólvora ao redor da raiz de uma árvore, sobre um tapete com a imagem de uma serpente mordendo a própria cauda.
EPISÓDIO 2: Carla Santana nos mostra seu ateliê e o início da preparação de tintas e pigmentos naturais utilizados em seu trabalho, produzidos artesanalmente por ela e sua equipe a partir de minérios brutos coletados em Minas Gerais. “Quis mostrar uma parte do processo de ateliê que não é vista ou as pessoas pouco imaginam: a preparação das tintas e dos pigmentos naturais que utilizo. Essa etapa, onde há quebra, peneira, misturas, é como um confronto com a matéria que constitui a minha obra. Um tempo antes da escultura, antes da pintura. O convite para participar do projeto chega em um momento em que estou experimentando novas cores e texturas. Até aqui, vinha trabalhando com a argila, que é mais fluída; agora, estou refinando pedras, o que representa outro grau de proximidade com a matéria. É uma mudança importante, parte da minha pesquisa atual com os materiais. Acabei de voltar de uma viagem de pesquisa pelo interior de Minas Gerais, e a série também capta o trabalho com as pedras e os minerais coletados por lá”, diz a artista.
EPISÓDIO 3: Marcelo Conceição nos apresenta sua casa-ateliê em Niterói. Acompanhamos a produção de uma de suas esculturas, que reaproveitam materiais coletados nas ruas e gravetos de bambu.
EPISÓDIO 4: arorá apresenta seu espaço de trabalho no centro do Rio de Janeiro e nos leva a acompanhar a realização da pintura Lotus de Ferro (2024-25), feita com tinta a óleo, bastão oleoso e prata sobre tela. A obra de grandes dimensões, 180 x 180 cm, ocupa o quadro enquanto vemos a artista preencher de branco a parte inferior da tela, banhada pela luz do sol.
EPISÓDIO 5: Eleonora Fabião apresenta uma performance inédita da série singelas, realizada no Largo da Carioca, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Pela manhã, em frente ao Relógio da Carioca, a artista manipula dois pequenos espelhos que enquadram elementos da paisagem da cidade. A ação marca um retorno do programa performático da artista após outras realizações na Avenida Rio Branco, também Centro do Rio de Janeiro, e nas ruas do East Village, Nova York, ambas em 2017.
O projeto tem incentivo do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Política Nacional Aldir Blanc.
Sobre os diretores
Ana Pimenta (Rio de Janeiro, 1996) é produtora cultural formada pela UFF, com intercâmbio acadêmico em Culture Management na Vilnius University (2020), Lituânia. Atua na elaboração e gestão de projetos, com foco em exposições e livros de arte. Foi produtora na galeria Nara Roesler Rio e integrou a equipe de exposições realizadas no Sesc Pinheiros, Futuros (antigo Oi Futuro Flamengo), Sesc Belenzinho, CCBB Rio
de Janeiro, entre outros espaços. Co-editou com Clara Gerchman o livro ‘Rubens Gerchman: recordes de um legado’ (Afluente, 2024) e foi assistente editorial dos livros ‘Volume 3: Raul Mourão” (Automatica Edições, 2022), ‘Arte Bra: Eleonora Fabião’ (Automatica Edições, 2021). Está cursando o mestrado em Artes Visuais na EBA-UFRJ.
João Marcos Latgé (1996) é natural do Rio de Janeiro. Formado em Cinema pela PUC- Rio e mestre em Artes Visuais pelo PPGAV/EBA-UFRJ. Em 2018, durante intercâmbio acadêmico na Filmakademie Baden-Württemberg (Ludwigsburg, Alemanha), realizou o curta-metragem Ghost story, sobre o Cais do Valongo. O filme foi exibido no FURORE Internationales Festival für junges Theater no mesmo ano. Já trabalhou na produção de festivais de cinema como Anima Mundi (2019) e Festival do Rio (2019 e 2021). Desde 2021 atua como realizador de vídeos independente, atendendo a artistas visuais e galerias de arte contemporânea. Já filmou nomes como Luiz Zerbini, Iole de Freitas, Lucia Laguna, Ana Almeida, Vik Muniz, Josh Callaghan, entre outros.
Serviço: Exposição Crua
Abertura: 28 de agosto, das 16h às 21h
Exposição: 28, 29 e 30 de agosto de 2025
Conversa com diretores e artistas: 30 de agosto de 2025, às 15h
Local: Abapirá – Rua do Mercado 45, Centro – Rio de Janeiro
Funcionamento: 28 de agosto, das 16h às 21h, dias 29 e 30 de agosto, das 11h às 19h
Entrada gratuita
A partir de setembro, os episódios serão lançados semanalmente nos perfis no Instagram e no YouTube @crua_arte:
· Dia 9 de setembro de 2025 – Ronald Duarte
· Dia 16 de setembro de 2025 – Carla Santana
· Dia 23 de setembro de 2025 – Marcelo Conceição
· Dia 30 de setembro de 2025 – arorá
· Dia 7 de outubro de 2025 – Eleonora Fabião