As obras de reforma do edifício A Noite devem começar no segundo semestre do próximo ano, segundo previsão da Prefeitura do Rio, que vendeu o prédio para o grupo QOPP Incorporadora, por R$ 36 milhões. Pelo projeto, haverá um restaurante na cobertura, além de um museu da Rádio Nacional. Ambos terão acesso por um elevador exclusivo e devem se tornar novas atrações turísticas na Praça Mauá, no Porto Maravilha.
O A Noite, que será transformado em um prédio residencial, foi ocupado por escritórios até 2012. No topo do edifício de 22 andares, o restaurante permitirá uma ampla visão da Baía da Guanabara e do Centro. Na cobertura, também ficará a área de lazer para os futuros moradores do prédio.
E é no museu da Rádio Nacional que o projeto de reforma do edifício fará um elo entre o passado e o presente da cidade do Rio. A rádio, que foi o mais importante veículo de comunicação do Brasil até o final da década de 1950, instalou-se no A Noite em 1936, até ser transferida para a Lapa, em 2012.
Cauby Peixoto, em apresentação no A Noite, em 1952
Em seus estúdios e auditório, a Nacional foi pioneira por diversas vezes. Quando começou a funcionar, a rádio era a primeira do país a ter alcance em quase todo território nacional. Nos anos 1940, foi a emissora que iniciou as radionovelas no país, além de ter criado a primeira redação de radiojornalismo, com a transmissão do Repórter Esso.
Por seus programas de auditório passaram grandes ídolos da música popular brasileira, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto e Elizeth Cardoso. Cauby é tido como um dos primeiros artistas a causar comoção entre seus fãs. São comuns as descrições de aglomerações na Praça Mauá em dias nos quais ele se apresentava no A Noite. Ao sair dos estúdios da Rádio Nacional, as fãs costumavam agarrá-lo e rasgavam seus ternos para levar uma lembrança do artista.
A Noite é símbolo do futuro do Rio, diz Eduardo Paes
O prefeito Eduardo Paes comemorou o final do processo de venda do A Noite, cuja licitação foi iniciada em maio. “Esse é um dos momentos mais importantes da história recente na cidade. Estamos dando vida novamente a um prédio histórico e tão bonito, que simboliza o que temos feito pela Região Portuária e pelo Centro do Rio. O Edifício A Noite deixa de ser um símbolo do passado para ser um símbolo do futuro”, afirmou.
O projeto de transformação do A Noite de edifício comercial para residencial está sendo acompanhado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional), pois o prédio, inaugurado em 1929, é um bem tombado. Ele é uma obra do arquiteto Joseph Gire, o mesmo do Copacabana Palace e do hotel Glória, em parceria com Elisário Bahiana. Seu desenho art déco é um marco da arquitetura brasileira.
Agora, a renovação está a cargo dos arquitetos Duda Porto e André Alvarenga, que destacam o grande desafio de revitalizar um símbolo da cidade. Com 102 metros de altura, o prédio chegou a ser considerado o mais alto da América Latina. Quando inaugurado, o A Noite herdou o nome do jornal diário que funcionava em suas instalações. Hoje, oficialmente tem o nome de Joseph Gire, o seu criador.