O caso da gigantesca pilha de escória tóxica da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com mais de 30 metros de altura, em Volta Redonda (RJ), voltou ao centro do debate ambiental com a proposta de um novo Termo de Acordo Judicial (TAJ), ainda em negociação entre a CSN, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e a Prefeitura de Volta Redonda.
Se aprovado, o acordo poderá conceder à CSN um prazo de até 13 anos para reduzir gradualmente a montanha até 10 metros de altura — muito acima dos quatro metros permitidos pela licença de operação original. O depósito de escória tóxica continua crescendo a menos de 50 metros do rio Paraíba do Sul, principal fonte de abastecimento de água para cerca de 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A montanha de lixo da CSN já tem mais de 5 milhões de toneladas de resíduo siderúrgico — com 270 mil metros quadrados de extensão. Formada por escória de aciaria, subproduto da produção de aço, a pilha representa um passivo ambiental acumulado ao longo de anos, e está no centro de uma disputa judicial que se arrasta há mais de uma década. Estudos da Fiocruz e do CREA-RJ apontam riscos sérios à saúde pública e ao meio ambiente, com registros de contaminação permanente do solo, da água subterrânea e do próprio rio.
CSN pode ter que pagar R$ 264 milhões em compensações ambientais
Além da ameaça à qualidade da água, a pilha de escória pode desabar em direção ao curso d’água em caso de chuvas fortes, por falta de estrutura de contenção. Ambientalistas e moradores questionam o novo acordo com a CSN, que prevê a remoção inicial dos resíduos mais próximos ao rio em três anos, seguida por reduções escalonadas de altura — para 24, 20 e, por fim, 10 metros — ao longo de até 13 anos. Também estão previstas compensações ambientais no valor de R$ 264,4 milhões, incluindo a recuperação de áreas degradadas no Refúgio da Vida Silvestre do Médio Paraíba.
“É inaceitável manter um depósito tóxico desse porte tão próximo ao rio que abastece milhões”, afirma Sérgio Ricardo, do Movimento Baía Viva. Ele afirma que cerca de 100 caminhões de escória continuam sendo despejados diariamente no local pela empresa Harsco Metals, que gerencia os resíduos da CSN.
Contradições e danos à saúde
A CSN diz que já retirou cerca de 885 mil toneladas da pilha entre 2020 e 2025 e utiliza o material em obras de infraestrutura. A empresa nega a toxicidade da escória e diz ter instalado novos equipamentos para conter emissões atmosféricas. Ainda assim, a liminar de 2018 que limitava a altura da pilha a quatro metros nunca foi cumprida, e o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2023, mesmo com parecer contrário do MPF, teve eficácia questionável.
Moradores dos bairros Brasilândia e Volta Grande IV relatam problemas respiratórios e prejuízos causados pelo chamado “pó preto”, uma fuligem que recobre casas e veículos. Estudos da Fiocruz apontam índices elevados de doenças respiratórias nessas regiões.
O Inea afirma ter aplicado mais de R$ 5 milhões em multas à CSN, mas admite que o novo acordo ainda está em discussão. A prefeitura local diz ter competência limitada para fiscalizar, e MPF e MPRJ pediram a atuação do Ibama, acusando o Inea de omissão.