Câmara tenta conciliar barraqueiro e esportista na praia | Diário do Porto


Sociedade

Câmara tenta conciliar barraqueiro e esportista na praia

Audiência pública na Câmara de Vereadores aborda o conflito de interesses na orla carioca: falta de espaço ou de organização?

8 de agosto de 2023

Praia de Ipanema no verão: disputa por espaço (Alexandre Macieira/Riotur)

Compartilhe essa notícia:


É pouca praia para muitos interesses, nem sempre fáceis de conciliar. As areias da Zona Sul sempre foram cenário de conflito entre moradores e quiosqueiros por causa das caixas de som, entre camelôs e comerciantes na disputa por turistas, entre pais de crianças e donos de cachorros e, cada vez mais, entre barraqueiros e esportistas. Este último conflito ganhou ares institucionais esta semana, com a realização de uma audiência pública na Câmara de Vereadores.

O debate sobre a organização dos espaços nas praias do Rio foi realizado pela Comissão de Segurança Pública, presidida pelo vereador Dr. Rogerio Amorim (PTB), na terça 8/7. Como garantir a convivência harmoniosa entre barraqueiros, banhistas e esportistas do vôlei, futevôlei, beach tennis, entre outras práticas, todos em um mesmo espaço?

Para Anna Laura Monteiro Valente, subsecretária executiva da Secretaria Municipal de Esportes, que representou a pasta no evento, a Prefeitura já emitiu 402 alvarás para atividades esportivas, sendo 200 para a Zona Sul, 150 para Recreio e Barra, 20 para Ilha do Governador e 15 para Tijuca, neste caso para a prática nas praças.

Sem controle

Anna Laura frisou que a emissão dos alvarás tem o objetivo de organizar a prática de esporte na orla, que estava sem controle. “A intenção não é tirar os barraqueiros dos seus espaços, mas sentar e conversar com quem se sente prejudicado. Precisamos estar todos em harmonia porque a praia é uma área de lazer, e temos o privilégio de usufruí-la sem custos”, reforçou.

Ela disse entender as demandas e reclamações dos barraqueiros, mas reiterou que a prática esportiva também é geradora de renda e  empregos, embora as atividades autorizadas tenham criado apenas 100 empregos diretos e indiretos para atender a cerca de 20 mil cariocas.

Os barraqueiros presentes reclamam do loteamento de vagas nas redes. A prefeitura diz que concede alvará para apenas um CPF por rede e só para dias úteis, mas os donos de barracas denunciaram que há um uso abusivo das autorizações por diversos profissionais, inclusive aos fins de semana.

O presidente da Associação de Barraqueiros do Recreio dos Bandeirantes, Alex Alvarenga, denunciou a falta de fiscalização. “Quais são as regras que estão nessas licenças? Quais os dias e horários de funcionamento? Podem deixar os módulos de esporte dia e noite na praia montadas?”, indagou. Segundo ele, os barraqueiros foram proibidos de deixar montadas as barracas depois das 20 horas.

Escolas de futevôlei

Augusto dos Santos, dono de uma escola de vôlei de praia na Praia do Flamengo há mais de 20 anos, explicou que o conflito começou quando as escolas de futevôlei e de beach tennis receberam autorização, pois estas não precisam de profissionais formados para dar aula.

“Nós, profissionais do vôlei de praia, temos que ser formados e com curso na Confederação Brasileira de Voleibol para ministrar nossas aulas. Já com esse boom de aumento de futevôlei e beach tennis, com professores que não são formados, os atritos começaram”, revelou.

Matheus Goulart, com uma escolinha de futevôlei em Ipanema há um ano, disse que convive bem com os barraqueiros da área. “Com a delimitação de regras é possível ter uma boa relação com as barracas. Se a gente conseguir conviver em sintonia, será um ganha a ganha para todos”, acredita.

‘Clamor da sociedade’

O vereador Dr. Rogério Amorim lamentou a ausência do secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevale. Segundo ele, as atividades esportivas são fundamentais, mas é preciso organização e fiscalização da prefeitura. “Sem dúvida há um crescimento exponencial dos projetos esportivos nas praias do Rio, por quase toda orla a qualquer horário do dia. Mas há um clamor da sociedade, em especial dos barraqueiros. Em muitos pontos há uma impressão de que não há mais espaço para estes profissionais e para os banhistas”, destacou o parlamentar.

Vice-presidente da Comissão de Turismo, o vereador Marcelo Arar (PTB) defendeu as práticas esportivas ao ar livre. “Os barraqueiros são os guardiões das praias, são eles que recebem os turistas e os moradores da cidade. Mas a Secretaria de Esportes conseguiu organizar o que sempre foi desorganizado, e os mais de 400 módulos esportivos  nas praias acabam turbinando o faturamento das barracas”.

A subsecretária Anna Laura prometeu criar um grupo de trabalho para reorganizar os espaços. “A desordem retira receitas, afugenta o turista, o morador e o investidor. A praia virou um local de conflito, e ela tem que continuar sendo um espaço democrático para os banhistas, para os esportistas e para os barraqueiros”, conclui Amorim.

Estiveram na audiência pública os vereadores Celso Costa (Rep) e Felipe Boró (Patriota), vice-presidente e vogal da comissão, respectivamente, o vereador Pedro Duarte (Novo) e o assessor especial da Secretaria Municipal de Esportes, Marcelo Leite.


LEIA TAMBÉM:

Rio protege Galeão para não ser província de São Paulo

Festival Degusta Búzios reúne mais de 100 restaurantes e bares

Marinha quer que Prosub, no RJ, exporte submarinos