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Antes de subir aos palcos, os livros

Em sua coluna, Olga de Mello comenta peças que viraram livro antes do palco e a reedição de O Talentoso Ripley, que completa 50 anos

8 de abril de 2025

Olga de Mello traz a obra "Meio do Céu" para refletir sobre o racismo e sobre as diferenças sociais (foto: Divulgação)

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Olga de Mello

Olga de Mello 

Na era do conhecimento, ainda parece difícil para muitos acreditar nas mazelas pelas quais passa a Terra, poluída e desgastada com a ocupação humana. Cada vez mais recorrente, esse tema chega à ficção em duas peças teatrais lançadas em livro antes de tomarem os palcos.  O desastre aéreo que determinou o fim dos voos do Concorde, em 2000, é o pano de fundo de “Meio do Céu” (Assírio & Alvim, R$ 85), de Ubiratan Muarrek, que propõe uma discussão entre o Brasil arcaico e o moderno numa Londres caótica. Em “E o canto das baleias azuis tornou-se mais grave” (Lema, R$ 40), de Michel Provost, traz um casal enfrentando os silêncios que compõem um casamento de quinze anos.

A peça de Muarrek apresenta um grupo de brasileiros vindos de Recife, que se encontram na capital inglesa, expondo todas as referências do país de origem. O não-pertencimento à cidade onde se radicaram permite que eles analisem os abismos culturais existentes entre os próprios expatriados, refletindo o racismo e as diferenças sociais num lugar onde as diferenças deveriam ser esquecidas.  Já Michel Provost busca nas observações em cena de um engenheiro acústico e de uma designer redimir as dificuldades de compreensão de linguagem de um casal em crise. Resgatar a conexão perdida, reconhecendo a inevitabilidade da mudança, eles têm nas diferentes frequências sonoras das baleias uma metáfora para a falta de comunicação entre pessoas que se afastam depois de acumularem histórias e conquistas mútuas.

A coleção best-seller Jogos Vorazes também arrebatou leitores antes se tornar uma sequência de filmes de altíssima bilheteria mundo afora, o que certamente ampliou as vendas da saga de jovens selecionados para participar de um reality show de lutas até a morte. Depois de vender mais de 85 milhões de cópias no mundo todo, chegou às livrarias o quinto volume das aventuras em Panem, “Amanhecer na Colheita(Rocco, R$ 79,90), de Suzane Collins. Na primeira semana de lançamento, em março, foram vendidos mais de 1,5 milhão de exemplares – sendo 1,2 milhão de exemplares apenas nos Estados Unidos. Os admiradores da série já aguardam outro filme baseado no último livro, que lidera as vendas no Brasil há três semanas.

Há 50 anos, um personagem maior do que sua história, o escroque Tom Ripley, surgia no primeiro de cinco livros da americana Patricia Highsmith. Para comemorar o cinquentenário, a série, iniciada por “O Talentoso Ripley” ganhou nova edição da Intrínseca, com cada volume a R$ 59,90. Vivido no cinema por Alain Delon, Dennis Hopper, John Malkovich, Barry Pepper e Andrew Scott, o anti-herói sem o menor caráter fascina leitores por sua perspicácia e frieza, uma característica das criações de Highsmith, que conquistou seu posto no panteão dos maiores escritores de thrillers ao abordar a culpa dos criminosos – algo desconhecido para Ripley, sociopata astuto, que só quer viver bem às custas dos outros. Seria bom se alguma editora se animasse a relançar o primeiro sucesso de Patricia Highsmith, “Pacto Sinistro”, que há mais de quarenta anos não vai para o prelo no Brasil. A história sobre um estranho acerto entre dois viajantes no mesmo trem despertou a atenção de Alfred Hitchcock, que fez a adaptação para o cinema, e merece uma nova edição.


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