Diário do Porto

Pesquisadores buscam navio negreiro em Angra dos Reis

Pesquisadores em busca do navio negreiro afundado em Angra dos Reis

Em Angra dos Reis, na Enseada Bracuí, pesquisadores buscam os restos do navio negreiro Camargo (foto: divulgação)

A história do Brasil é a história da escravidão e um novo capítulo dela está sendo pesquisado por arqueólogos no mar de Angra dos Reis, há três horas da cidade do Rio, numa das mais belas áreas do litoral do país. Lá, na Enseada de Bracuí, pesquisadores estão mergulhando para identificar os restos do navio negreiro Camargo, incendiado e afundado em 1852 por seu capitão, Nathaniel Gordon, marinheiro dos Estados Unidos.

Gordon destruiu o navio após transportar ilegalmente cerca de 500 pessoas escravizadas da África até o litoral fluminense, sob encomenda do maior latifundiário brasileiro da época, Joaquim José de Souza Breves. O naufrágio proposital foi uma artimanha do capitão americano, para não deixar vestígios de seu crime. Ele fugiu do Brasil e retornou para os EUA, onde, em 1862, foi enforcado por continuar realizando tráfico de escravizados.

A reportagem original sobre essa história foi publicada pelo UOL e pode ser lida aqui.

A busca pelo navio negreiro está sendo realizada por pesquisadores do Instituto AfrOrigens, da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Sergipe. Eles contam com o apoio de instituições de pesquisa americanas, como a George Washington University e o Smithsonian Institution National Museum of African American History and Culture. Também está sendo produzido um filme sobre a história de Gordon e a pesquisa em Angra.

Os arqueólogos subaquáticos e os pesquisadores fazem buscas em três naufrágios diferentes encontrados em Bracuí. Um desses navios é o que restou do Camargo, mas os pesquisadores ainda precisam fazer a comprovação científica.

Angra dos Reis, reconhecida por sua beleza, guarda vestígios da escravidão

Yuri Sanada, um dos fundadores do Instituto AfrOrigens, afirma que a identificação do navio negreiro terá também uma importância para o reconhecimento da comunidade quilombola que existe até hoje na região, no mesmo local onde ficava a Fazenda Santa Rita, uma das propriedades de Joaquim José de Souza Breves.

A região, conhecida por suas vistas maravilhosas e pontos turísticos, guarda outros vestígios dos quase quatro séculos de escravidão do país. Mas, até hoje, os quilombolas, descendentes das pessoas escravizadas por Breves, não possuem o direito de posse das terras onde vivem. 

Breves foi o primeiro brasileiro a ser chamado de o “Rei do Café”. No século 19, suas terras abrangiam quase toda a extensão do litoral Sul do Rio e subiam pelas serras até Minas Gerais. Em várias fazendas, ele explorava o trabalho de mais de dez mil africanos e descendentes escravizados. Foi também um dos maiores opositores ao fim da escravidão, ocorrido em 1888. Ele morreu um ano depois e nos anos seguintes todo o seu império econômico entrou em colapso, restando apenas lembranças.

Nathaniel Gordon realizou o desembarque em um porto clandestino da região, pois na época, por pressão da Inglaterra, o tráfico de escravos por mar já havia sido proibido no Brasil e havia a possibilidade de prisão contra seus praticantes. Navios ingleses vigiavam constantemente o litoral brasileiro em busca de transgressores.

As leis brasileiras contra o tráfico humano foram adotadas em 1831 e em 1850, mas continuaram permitindo a escravidão e nunca foram efetivas contra as operações ilegais, por isso passaram a ser chamadas de “leis para inglês ver”.


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