Diário do Porto

Crise do clima e combate à fome são debatidos no Museu do Amanhã

Museu do Amanhã reafirma vocação para discutir o futuro do planeta (foto Divulgação)

Eduardo Gomes

O Museu do Amanhã, que segue batendo recordes sucessivos como um dos mais visitados do país, também tem reforçado sua vocação para repensar o futuro do planeta e jogar luz sobre as questões de sustentabilidade, como o enfrentamento das mudanças do clima com o combate à fome e à pobreza. Este foi o tema da mesa redonda Perspectivas de ação climática para a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, dia 5, organizada pelo Governo Federal em parceria com Instituto Clima e Sociedade (iCS) e o Instituto Ibirapitanga.

Representantes da sociedade civil se reuniram com especialistas dos setores públicos e privados para discutir propostas para superar esses desafios. A reunião aconteceu em paralelo com a Quinta Conferência Global de Sinergias entre o Combate à Mudança Climática e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, também no Museu do Amanhã. 

Maria Netto, diretora do iCS, ressaltou que o painel une duas das principais prioridades do Brasil na presidência rotativa do G20: a erradicação da fome e a luta contra as mudanças climáticas. “É uma oportunidade para o mundo acelerar soluções práticas que impactem positivamente a vida das populações e a saúde do planeta. Garantir o financiamento para a implantação das iniciativas é uma das nossas maiores urgências”.

De acordo com dados da FAO (2024), entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas sofreram com a fome em 2023. A crise ambiental atinge diretamente as populações mais vulneráveis e intensifica o cenário de insegurança alimentar e vulnerabilidade social no mundo.

Dessa forma, mudanças climáticas, fome e pobreza foram debatidos de forma integrada pelos participantes do encontro. Especialistas explicaram como os esforços para uma transição energética sustentável podem colaborar para o alcance dos ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável).

Combate à fome, pobreza e às mudanças do clima

A Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal, falou sobre a importância da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa do governo brasileiro na presidência do G20. A Aliança é um projeto proposto pelo Brasil para erradicar a pobreza e a fome até 2030. Rahal apontou que as mudanças climáticas impactam o sistema de produção e consumo de alimentos, o que prejudica uma distribuição justa e sustentável de comida.

“Os mais afetados são aqueles que sofrem com a fome e com a insegurança alimentar”, disse a secretária. “São as pessoas vulnerabilizadas do ponto de vista social e nutricional. As pesquisas têm apontado que os lugares onde os impactos das mudanças climáticas são mais fortes são também onde o índice de insegurança alimentar é maior. É preciso combinar ações que levem em consideração esses dois cenários para que as respostas cheguem primeiro, e com a devida urgência, para quem mais precisa”.

De acordo com a secretária de Mudança do Clima, Ana Toni, a emergência ecológica é o maior propulsionador de insegurança alimentar. Ou seja, Toni entende que enfrentar a pobreza e a fome exige também lidar com as causas e consequências do aquecimento global.

“A alteração do clima é um enorme acelerador de desigualdades e compromete seriamente a segurança alimentar a nível global, atingindo sobretudo as camadas mais pobres da população”, afirmou. Nesse sentido, Toni acredita que o G20 pode ser um excelente passo para vencer este desafio.

Caminhos para um mundo sustentável

O embaixador André Aranha Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, destacou o potencial do Brasil de se tornar o líder global na produção de alimentos com menos emissão de poluentes. Dessa forma, Corrêa reforçou que a sociedade civil tem um papel na luta por esse futuro. “A comunidade tem que tirar o governo do seu conforto”, disse o embaixador. “A burocracia tem um ritmo e maneira de tratar dos assuntos que tende a ser mais lento do que as necessidades. A sociedade civil tem que estar presente para lembrar que as coisas são mais urgentes do que parecem para alguns órgãos do Governo”.

Eventos extremos, como secas e inundações, prejudicam a agricultura e a produção de alimentos. Por sua vez, a degradação ambiental diminui as oportunidades econômicas para os mais pobres. Segundo os especialistas, é preciso adotar estratégias que combinem o combate às mudanças climáticas com ações voltadas para a segurança alimentar e a igualdade social.

“Os sistemas alimentares estão no centro das transformações necessárias ao enfrentamento da crise climática – e o Brasil desempenha um papel crucial nisso. No entanto, é necessário que o financiamento para essa transformação considere, para além dos seus efeitos climáticos, os impactos na saúde das pessoas e na preservação das culturas alimentares”, pontuou Andre Degenszajn, diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga.


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