A falta de coesão política em torno do fortalecimento do Galeão tem facilitado os movimentos de quem não quer que o Rio volte a ter um aeroporto internacional entre os principais do país. Nos últimos dias, foram frequentes os protestos do prefeito da capital, Eduardo Paes, e ainda de alguns secretários estaduais. Mas não houve nenhuma manifestação conjunta, que unisse também o governador, os senadores e deputados federais.
Essa ausência de posicionamento uníssono em torno de um interesse público do Estado tem facilitado ações como a manobra recente do “bode na sala” realizada pela Infraero. Enquanto publicamente ocorriam os debates para a redução dos voos do Santos Dumont, exigindo a transferência de parte de suas linhas para fortalecer o Galeão, a Infraero, na surdina, aumentou a capacidade do aeroporto do Centro do Rio para 15,3 milhões de passageiros por ano.
Diante das manifestações indignadas, mas isoladas, de Eduardo Paes, o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, reagiu dizendo que a medida será revista e o Santos Dumont não irá ultrapassar neste ano a marca de 10 milhões de passageiros, número semelhante ao do ano passado. Ou seja, o ministro vem a público dizer que houve uma concessão, enquanto na verdade o que se fez é manter tudo da forma como está, na qual o Santos Dumont continua com excesso de passageiros, com atrasos de voos, mas propiciando lucros para a Infraero, a estatal gestora dos aeroportos federais. Tirou-se o bode, para tentar restabelecer a situação inicial.
E no lugar de haver um movimento conjunto em defesa do Galeão, com a transferência imediata de voos do Santos Dumont, há até manifestações de líderes políticos estaduais que dão apoio a ideias que atrasariam esse processo. Exemplo disso é a defesa de uma nova licitação para o Galeão, que tem várias versões, todas elas com prazo mínimo de três anos, tempo que só prejudicaria ainda mais o Rio. Entre essas versões, talvez a mais estranha tenha sido a da licitação conjunta do Galeão com o aeródromo de Resende, coisa que inicialmente foi atribuída de forma errônea ao ministro Márcio França.
Galeão é vital para a economia do Estado do Rio
O fortalecimento do Galeão é uma medida necessária para recuperar o fluxo turístico direto do Rio de Janeiro e para estimular o comércio exterior que se realiza por meio das cargas aéreas, fatores essenciais para a economia do Estado. Nos anos recentes, o movimento aéreo que antes se realizava pelo Galeão tem sido desviado para conexões em outros Estados, principalmente de São Paulo, o que vem tornando o Rio em destino secundário das empresas aéreas internacionais.
Para o Galeão sair da 16ª posição no ranking nacional dos aeroportos, sua condição atual, e voltar a ser um dos principais do país é preciso que ele tenha rotas nacionais que alimentem os voos internacionais. Isso só ocorrerá com a limitação do Santos Dumont a voos para São Paulo, Brasília, interior do Estado e para jatinhos. Segundo especialistas, tal medida significa reduzir a capacidade do Santos Dumont para cerca de 6 milhões de passageiros por ano, bem menos do que a metade dos 15,3 milhões que a Infraero tentou empurrar, com a manobra do “bode na sala”.
Também será necessário que a Prefeitura e o Governo do Rio façam sua parte, garantindo que o acesso ao Galeão seja feito de forma rápida e segura em qualquer hora do dia. Isso não depende do Governo Federal e deveria começar já.
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