Diário do Porto

Conceição de Macabu resgata a seresta para o Brasil

Seresta é a paixão de Conceição do Macabu (Secretaria de Estado de Cultura)

Eliane Lobato 

 

Você sabia que seresta é um nome inventado no Brasil? Nasceu no século 20 para designar o gênero musical que não era serenata mas os populares achavam parecido. Os seresteiros eram famosos e muito apreciados, porém, com o passar dos anos, foram desaparecendo, substituídos por outros estilos. Por isso, Conceição de Macabu, cidade com pouco mais de 23 mil habitantes a 227 quilômetros ao norte do Rio, é uma preciosidade nacional.

Em Conceição de Macabu há ótimos seresteiros e um local de shows especialmente voltado para o gênero, a Casa da Seresta. Semanais – sempre às sextas-feiras, das 20h às 24h – e abertas ao público, essas apresentações são o mais forte atrativo turístico da cidade. Fechada durante a pandemia, a Casa foi reaberta e está a todo vapor. A cada quatro semanas, é organizado um evento especial para os aniversariantes do mês, com direito a comes e bebes.

“É um estilo musical em extinção, mas Conceição de Macabu resgata a seresta para o Brasil”, diz o macabuense Humberto Schwartz, 73 anos. Ele integra a Associação de Seresteiros Lua Cheia, nome de um dos mais tradicionais grupos da região, criado em 1976.

Escola tem convênio com a UFRJ

A Casa da Seresta tem show semanais gratuitos (foto: Prefeitura de Conceição de Macabu)

Schwartz também se dedica a ensinar música para as novas gerações na Escola Municipal Macabuense de Música e Arte, hoje sob a direção da professora Sueli Ribeiro. Há 14 anos no quadro docente da Escola, ela une a arte com a psicanálise – sua segunda formação – para praticar a musicoterapia com crianças com necessidades especiais. Ela conta que a vocação musical da cidade é inegável. “Eu não sei viver sem a música: para mim, é essencial”.

 


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A Escola que Sueli dirige tem cerca de 120 alunos espalhados em aulas – agora, presenciais – de variados instrumentos, como teclado, violão, violino, violoncelo, trompete, piano etc. Todos os cursos são gratuitos e a Escola mantém convênio com o Instituto Villa-Lobos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O novo projeto da Escola é criar uma orquestra. Por enquanto, as apresentações ficam a cargo da banda dos alunos. “Nós estamos sempre presentes”, afirma Sueli, que organiza um romance musical na semana dos namorados e uma apresentação todo 15 de março, dia do aniversário da cidade. Além dos shows, há outros eventos ligados ao estilo que fazem parte do calendário da cidade, como o Encontro de Seresteiros e o Festival Silvio Caldas, ambos anuais.

Cachoeira da Amorosa

Macabuenses encontram paz e beleza na cachoeira da Amorosa (foto: Fly Drone)

“Nós somos uma terra musical. Eu cresci neste meio. Meu pai era seresteiro, meu tio é compositor, meu irmão toca teclado e, eu, clarinete”, diz o macabuense Roberto Marcelino Medeiros Bessa, 46 anos. “Toda a cidade participa, se envolve nos eventos.”

Durante o dia, seja seresteiro ou não, há um passeio em Conceição de Macabu que todos adoram: a cachoeira da Amorosa, o lugar de lazer mais visitado do município. O acesso de carro é fácil, há estacionamento e bares na redondeza.

A educadora macabuense Rariel de Oliveira Barbosa, 28 anos, indica a visita, mesmo sem sol. “Porque é um lugar de paz, beleza natural enorme, romântico, bom para se conectar com Deus também”, afirma.

A gemada Pacopaco

Outra dica de programa para se fazer durante o dia, e antes das serestas, segundo Rariel, é experimentar algumas comidas típicas da região, como o pacopaco, uma gemada que leva um pouco de farinha e pode ser frita, e a tatuí, uma rosquinha de polvilho “bem torradinha”.

Pode-se comer como petisco em bares ou com café, no lanche da tarde. Só não pode durante os shows: nem tem mesa na charmosa Casa da Seresta. Ali, o alimento servido é para a alma e o coração, com belas canções que falam de amor e romance.

*Colaborou Carolina Smolentzov

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