Diário do Porto

Amarelinho: o bar que há 102 anos colore o Rio

amarelinho da cinelândia

Fachada do icônico prédio amarelo da Cinelândia, localizado na Praça Floriano (Foto: Júlia Sabino)

Carolina Brasil

No dia mais quente do ano, o amarelo tomava conta do Rio de Janeiro. Amarelo do prédio, amarelo das toalhas de mesa, amarelo do chope gelado. Restaurante centenário na Cinelândia, o ambiente do Amarelinho faz jus ao nome. A casa fica cheia todos dias, por todo tipo de gente, em um vaivém tipicamente carioca.

Assim como o público, o cardápio é variado e vai desde carnes, frutos do mar e aves até petiscos, pizzas e opções vegetarianas. Para acompanhar, um chope gelado é sempre uma boa pedida. Durante a semana, os pratos-executivos custam a partir de R$ 39.

Há 20 anos, trabalha ali Osmildo Gomes, o Miro, de 59 anos. Garçom por vocação, mas não por sorte. “Eu escolhi. Uma escolha boa, por sinal. Eu levo jeito”. De origem paraibana, veio com a família ao Rio de Janeiro em 1979. Desde que chegou à cidade, trabalha no ramo da gastronomia.

Figura conhecida do restaurante, Miro reconhece o valor do local para o Centro da cidade. “O Amarelinho vai ser sempre importante. É um marco histórico. Quando fechamos, era como se a Cinelândia não existisse, estivesse morta”. Desde 2021, o Amarelinho integra o Circuito dos Botequins, que inclui bares de tradição como Bar da Portuguesa, Casa Paladino, Bar Adonis e Adega Pérola.

Garçom do Amarelinho há 20 anos, Miro Gomes é personagem popular do restaurante, reconhecido pelo bom atendimento (Foto: Júlia Sabino)

O título veio quando o restaurante tornou-se patrimônio cultural carioca, depois de ter ficado mais de um ano fechado por conta da pandemia. O estabelecimento passou por dificuldades financeiras, mas foi comprado pelo grupo que administra também o tradicional Boteco Belmonte. No mesmo ano, completou 100 anos de existência.

Nos fins de semana, o Amarelinho recebe música ao vivo. Aos sábados, as rodas de samba lotam o conhecido ponto de encontro da boemia carioca – que, por sinal, ganha ainda mais fôlego na época de Carnaval. Outro atrativo é a feijoada completa, servida toda sexta-feira.

Prestativos e ágeis, os garçons acompanham a reputação da casa, que esbanja clientes fiéis. “Ser um bom garçom é ser atencioso com os fregueses e tratar todo mundo bem. A melhor parte é trabalhar com pessoas. A gente aprende a ter uma visão diferente por ter contato com diversas naturezas do ser humano. Você evolui, não só para os outros, mas para você mesmo”, reflete Miro.


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Quem frequenta o local com assiduidade concorda com essa visão. É o caso do advogado Léo Fernandes, de 25 anos. A relação com o Amarelinho começou seis anos antes, quando começou a frequentar a Cinelândia por causa do trabalho. Desde então, esteve lá em diferentes momentos da vida. “Era uma relação de trabalho que se transformou em uma paixão. Estou no Amarelinho toda semana, já comemorei aniversários e gosto de marcar reuniões lá. É um ambiente aberto e descontraído. Não tem tempo ruim ali”, conta.

Admirador da picanha e da caipirinha da casa, Léo acredita que a aquisição pelo grupo Belmonte manteve a qualidade e, ao mesmo tempo, modernizou e ampliou as opções oferecidas pelo restaurante. Para ele, o diferencial do Amarelinho ainda é o serviço. “Minha parte favorita é o atendimento. Sempre sou atendido com muita atenção e cuidado, uma raridade no Rio de Janeiro”.

De acordo com Miro, gostar de trabalhar é pré-requisito no ramo escolhido. Pode ser desafiador, mas é gratificante na mesma medida. “As amizades impactam a gente. Perceber que você fica marcado na memória das pessoas é muito prazeroso. Saber que alguém lembra de você, mesmo distante, é fantástico”. Nas duas décadas de trabalho no Amarelinho, o garçom acompanha o crescimento de famílias que frequentam o local, comemoram datas importantes e conquistas e, por isso, criam laços.

História centenária

O prédio de fachada amarela, que ocupa uma esquina da Praça Floriano, é vizinho de ícones cariocas: o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, a Câmara de Vereadores, a Biblioteca Nacional, o Centro Cultural da Justiça Federal e o Cine Odeon. Na época da inauguração, a região era apelidada de “Broadway Brasileira”, por concentrar a maioria dos cinemas e teatros da cidade.

A arquitetura do edifício, no estilo neoclássico, é considerada uma joia. O prédio foi um dos primeiros arranha-céus da cidade e é tombado pelo município desde 1989.

O Amarelinho da Cinelândia foi palco de discussões sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, a ascensão de Getúlio Vargas e as Diretas Já, durante a redemocratização do Brasil. A lista de clientes que passaram por lá inclui o poeta e compositor Vinicius de Moraes, o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, o arquiteto Oscar Niemeyer e o escritor Mário de Andrade.

O restaurante fica aberto diariamente, a partir das 10h30.

Amarelinho da Cinelândia

Endereço: Praça Floriano, 55 – Centro
Contato: (21) 3825-0243 / (21) 98294-6968
Instagram: @amarelinhooficial

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