
Se a ideia da Velo-City 2018, maior conferência do mundo sobre mobilidade urbana, que termina nesta sexta-feira (15) no Pier Mauá, era inquietar o público, pode-se dizer que conseguiu. Desde o dia 12, dezenas de palestrantes levantaram temas sobre ciclismo como transporte alternativo, futuro da cidade com a tecnologia, a importância da mobilidade enquanto transformação social, entre muitos outros tópicos. Para a organização do evento, a cidade do Rio, principalmente com a existência do Porto, deveria estar mais atenta ao assunto.
De acordo com João Lacerda, um dos organizadores, o objetivo da Velo-City era, de fato, propor ou trazer a promoção do uso da bicicleta no mundo, assim como outros debates acerca de transporte e mobilidade urbana.
“O evento não foi pensado para ser eurocêntrico ou centrado nos países ricos. O estado da arte é promover, para o Rio, iniciativas de transformação social. Esses debates que estão surgindo aqui trazem a bicicleta como instrumento para isso. Ela serve como uma solução de futuro e de presente para civilizações mais ricas e também para as mais pobres”, diz.

Inspiração para a Pequena Brasil em Moçambique
Para Manuel de Araújo, prefeito de Quelimane, o evento fornece inspiração para todos que querem transformação. Sua cidade, conhecida como “Pequena Brasil” por conta de seu carnaval igualmente festivo, é a mais ciclística de Moçambique. “Quero fazer com que Quelimane cresça e quero atingir isso com a bicicleta. Vim buscar ideias e já fechei parcerias para viabilizar um futuro diferente”, disse.
A palestra de Quelimane, no penúltimo dia do evento, mobilizou o público presente. Na opinião de Lacerda, trouxe reflexões fortes para o Brasil e para o Rio. “Quando o Manuel vem ao evento e diz que os cidadãos de ‘Pequena Brasil’ deixam de andar muitos quilômetros para pegar água porque contam com uma bicicleta, isso é acesso à vida”, afirma o organizador.
Lacerda avalia: “Nossos governantes estão fabricando uma cidade menos humana, ou seja, sentada dentro de um automóvel, atrás de um volante. Queremos sugerir a bicicleta, a caminhada e outras possibilidades. Há uma série de ideias circulando, como a integração social, benefícios ao meio ambiente, e por aí vai… A cidade do Rio perde a oportunidade de promover o uso da bicicleta.”

Grafiteiro dá nota 3 para a cidade e a região
Paulista de Assis, no interior de São Paulo, o artista Anderson Ferreira Lemes, o Alemão, foi convidado pela Velo-City para grafitar ao vivo um painel sobre ciclismo. Ele, que é amante da bicicleta, quando questionado sobre nota de zero a dez para a cidade do Rio e região portuária para o ciclismo, respondeu: “Três. Nota três, porque ainda tem muita ‘malha’ para explorar.”
No espaço, ele faz uma ‘Live Painting’, performance em que desenvolve sua arte diante do público, com a temática da bicicleta, estrela principal de suas obras que ganharam o mundo. O meio de transporte exaltado por Alemão remete ao desejo de liberdade que nos torna humanos. As imagens trazem essa possibilidade dentro de uma estética em que a cor possui, também, um papel primordial.
“Estive em Londres e conversei com pessoas ali para falar sobre bicicletas como ferramentas de transformação urbana. Uma pessoa, então, me disse que a cidade não se preocupa com a bicicleta em si, mas com a vida que está em cima da bicicleta. A bicicleta, na verdade, a gente tem que olhar como vida”, diz o artista.
A Velo-City Rio 2018 termina nesta sexta-feira (15), no Armazém 3 do Pier Mauá. Mais informações: www.velocity2018.com
Colaboração de Pablo Vallejos para o DIÁRIO DO PORTO.