No imaginário popular, que é o que importa no Carnaval, as sementes de guaraná são os olhos de um indiozinho que foi mordido por uma serpente quando procurava frutos na floresta. E esta é a bela lenda que a Unidos da Tijuca transformará em festa grandiosa este ano no Sambódromo.
O enredo “Waranã – A reexistência vermelha”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, é sobre ciclos, descendências e resistência dos povos indígenas, mas, principalmente, sobre sua importância. O desfile começa no paraíso do povo Sateré-mawé, considerado guardião do guaraná.
Para Jack, é importante passar a mensagem de que a luta dos povos indígenas continua, que eles estão vivos, na ativa, e não cristalizados na imagem montada pela cultura branca. O enredo, portanto, é uma manifestação pela autonomia dos povos da floresta, donos originais da terra.
‘Sonhos delirantes’ da Unidos da Tijuca
A Unidos da Tijuca é uma das mais antigas escolas de samba do Rio, com uma fusão de blocos dos morros da Casa Branca, Formiga e Ilha dos Velhacos, em 1931. Venceu seu primeiro carnaval quando tinha cinco anos, em 1936, com o enredo “Sonhos Delirantes”. Depois disso, só voltou à consagração 74 anos depois, em 2010, com a explosão criativa do carnavalesco Paulo Barros no enredo “É Segredo”.
Dois anos depois, nova consagração com Paulo Barros e o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”. A escola recebeu nota máxima de todos os jurados em três quesitos: Comissão de Frente, Harmonia e Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Mais dois anos e nova conquista, em 2014, com “Acelera, Tijuca“, enredo de Paulo Barros em homenagem a Ayrton Senna.
9º lugar em 2020
Em 2020 a escola apresentou o enredo “Onde moram os sonhos“, com a arquitetura e as belezas naturais da cidade do Rio de Janeiro. Depois de seis anos, o carnavalesco Paulo Barros retornou prometendo surpresas, mas a Tijuca acabou em nono lugar.
Veja a letra do samba 2022. Para cantar junto, Ouça aqui
Waranã – A reexistência vermelha
Composição: Anderson Benson / Eduardo Medrado / Kleber Rodrigues
Alto céu
De Tupana e Yurupari
Duas forças que vão fluir
A energia de Monã
Que equilibra o bem e o mal
Um lugar onde as pedras podiam falar
Onde irmãos desfrutavam
A beleza singular
Anhyã, bela e habilidosa
Mas a cobra ardilosa usa a flor pra lhe tocar
E nasce Kahu’ê o Curumim
De olhos alegres sempre assim
Presença tão breve
A ingenuidade sucumbe à maldade
Renasce Kahu’ê o Curumim
Seus olhos alegres não têm fim
Pois o bem é maior, vai reexistir
Vida ligeira, passageira
Plantada no solo da pura emoção
De pele vermelha, os frutos de uma nação
Vida inocente, vira semente
E ao som de uma ave a cantar
Floresce imponente o povo do guaraná
E se a cobiça e o fogo chegarem na aldeia
Deixa a força Mawé ressurgir
E sorrir quando o Sol reluzir
Nesse dia eles vão temer
E o amor vai vencer
Erê, essa mata é sua
Erê, vem provar doce mel
Waranã da Tijuca
Vem brincar no Borel