A tecnologia ainda não move montanhas, mas provoca tantas transformações na sociedade que é difícil acompanhar. Não são poucas as profissões modificadas – ou até destruídas – por hardwares e softwares. Na Odontologia, para a felicidade geral dos clientes, mudança é o que não falta.
Hoje é o Dia do Dentista, 25 de outubro. O DIÁRIO DO PORTO entrevistou um profissional antenado para nos apontar tendências e novos procedimentos da Odontologia Digital. Assim, homenageamos todos os profissionais que se esforçam para melhorar a saúde, o sorriso e nossa qualidade de vida.

Aos 38 anos, Rafael Rangel Guerra, formado pela Uerj, tem três especializações: Endodontia na PUC, Implantodontia na Universidade São Leopoldo Mandic e Prótese Dentária na Associação Brasileira de Odontologia. Ele não economiza esforços – e recursos – para se atualizar. Gosta tanto da profissão que casou-se com a ortodontista Fernanda Knupp, formada pela UFF.
O “casal sorriso” carioca trabalha na Vertente Odontologia, em Ipanema, mas Rafael também atua em duas unidades da clínica Oral Shape no Centro (Rua do Ouvidor e Rua Neri Pinheiro, na Cidade Nova).
Fomos à procura do Rafael para contar o que acontece de diferente na cadeira de dentista. Ele não hesitou: a Odontologia Digital está mudando a profissão, como aconteceu outras duas vezes nos últimos 50 anos. A primeira foi com a chegada do implante, há uns 40 anos. O sistema derrubou a ponte fixa, a móvel (perereca) e a dentadura.
Há 15 ou 20 anos, chegaram os materiais adesivos, colas poderosas que libertaram o paciente de desgastes grandes nos dentes para criar “encaixes” para os blocos. Agora chegou a vez do scanner, principal equipamento da Odontologia Digital.
O DIÁRIO DO PORTO pediu a Rafael Guerra que apontasse as cinco maiores inovações dos consultórios modernos. Como sempre acontece, o preço alto dos equipamentos retarda o investimento dos dentistas, mas a tendência é que, com o barateamento da tecnologia e as práticas de compartilhamento, o consultório que você conhece hoje logo deixará de existir. Vamos às novidades:
1 – A impressora 3D
Sabe aquele vai-e-vém no consultório do dentista quando você precisa fazer uma restauração, um bloco? Está com os dias contados. Inventado nos anos 1980 na Suíça, o CAD-CAM (‘Computer Aided Design’ e ‘Computer Aided Manufacturing’) é um sistema que ‘escaneia’ a boca e manda a informação (via wifi mesmo) para uma impressora, onde o “dente” é feito na hora, em cerâmica ou resina.

Fica perfeito, dispensando até aquelas muitas mordidas no carbono para marcar os excessos a serem removidos pelo motorzinho irritante. Um processo que chegava a exigir quatro idas ao consultório, dependendo da habilidade do protético, é concluído em 40 minutos. O investimento do dentista é alto, cerca de R$ 270 mil na impressora e no scanner. O compartilhamento tem sido a solução, e protéticos já estão adquirindo o equipamento.
2 – Alinhadores invisíveis na Ortodontia

Acaba com aqueles terríveis brackets de metal colados em todos os dentes e unidos por um fio apertado em incontáveis idas ao consultório. Esse sistema fixo, que atormenta a pessoa durante uns 30 meses em média, perde espaço para o alinhador de polímero (plástico). O scanner copia a arcada, um software simula a movimentação desejada e manda para uma impressora 3D confeccionar o aparelho.
O alinhador é quase imperceptível e pode ser tirado a qualquer momento para a higiene bucal. Outra vantagem é que não provoca movimento de outros dentes (como o sistema antigo), dispensando os ajustes e reduzindo para a metade o tempo do tratamento. O preço ainda é salgado. Os brackets fixos variam de R$ 3,5 mil a R$ 8 mil; o alinhador de polímero vai de R$ 7 mil a R$ 12 mil.
3 – Planejamento das “lentes de contato”
Você já deve ter ouvido falar de “lentes de contato” para os dentes. A pessoa pode modificar a boca “encapando” os dentes, um a um, com cerâmica. Parte do esmalte é retirada para o dente receber uma “capa” e ficar com o tamanho e formato desejados. Antes, o planejamento da “nova boca” exigia até três meses de estudo.

O dentista fotografava os dentes, fazia moldes de gesso e enviava para o protético, que esculpia em cera várias propostas, dente por dente. Sabe quantas vezes você precisa ir ao dentista para fazer isso hoje? A rigor, em uma só sessão o profissional pode fazer a proposta, desgastar o dente, escanear, mandar para a impressora, fazer as “lentes de contato” e fixá-las nos dentes. Pronto, uma nova pessoa sai do dentista pronta para sorrir como um ganhador de loteria.
4 – Implante sem corte
Ficou menos importante a habilidade do cirurgião em provocar o menor trauma possível na colocação do parafuso de sustentação do dente de cerâmica. Hoje o cálculo do tamanho e da inclinação do pino é feito de forma precisa pelo scanner e o software. A impressora então fabrica uma “guia” de polímero, que o dentista coloca na gengiva para conduzir a broca. Não é mais necessário abrir a gengiva para o dentista enxergar o osso. Não tem corte, não tem pontos, e o risco de inflamação é drasticamente reduzido. A desvantagem, ainda, é o preço: geralmente, quase o dobro do procedimento tradicional.
5 – Placas de bruxismo
Essa dupla de scanner e impressora não faz apenas placa para evitar o ranger de dentes durante o sono. É usada também para confeccionar, em polímero, protetores bucais para esportes como o boxe e órteses para tratar muitos casos (não todos) de ronco e apnéia. O método tradicional consiste em fazer o molde em gesso e mandar para o protético, que transforma em acrílico. Se o encaixe não ficar bom, começa tudo de novo.