Uma das maiores tragédias do Patrimônio Histórico do Ocidente, o incêndio que destruiu o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista mergulhou o Brasil no luto. Praticamente tudo foi destruído. O museu mais antigo do país foi fundado por Dom João VI em 1818. Tinha mais de 20 milhões de peças, entre elas o mais antigo fóssil humano encontrado no país, “Luzia”, o que torna iviável qualquer tentativa de mensurar o prejuízo da devastação. Até o início da madrugada de hoje, ninguém tinha sido preso ou demitido. Nem renunciado ao cargo.

Coleções de relevância internacional, formadas por gerações de pesquisadores ao longo de 200 anos, viraram cinzas, expondo ao mundo o desleixo irresponsável e criminoso com o qual os governos brasileiros tratam seu acervo histórico e cultural há décadas.
Não está claro o que provocou o incêndio, o que será investigado pela Polícia Civil. Felizmente, não houve vítimas, pois a visitação foi encerrada às 17h. Os vigilantes conseguiram sair antes de as chamas se alastrarem.
O Museu é administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1946. Entre seus 20 milhões de itens estava a maior coleção egípcia da América Latina, documentos da época do Império, fósseis, coleções de minerais e artefatos greco-romanos.

No ano de seu bicentenário, o museu, que foi a sede da Monarquia brasileira, ganhou de presente mais cortes orçamentários, fato comum em sua história. De nada adiantou a relevância de ter sido a sede da Monarquia brasileira nem a de seu rico acervo africano, pré-colombiano, grego, mediterrâneo, pré-histórico. Havia fósseis de animais desde a explosão cambriana, dinossauros, a megafauna do pleistoceno, como a preguiça gigante, e milhares de borboletas.
“Perdemos uma biblioteca insubstituível, com obras raríssimas como os livros da expedição de Napoleão no Egito e o diário de viagem de Dom Pedro II às pirâmides e a Luxor. Pesquisas em andamento viraram pó. A memória e a ciência brasileira e mundial estão em luto. Uma dor irreparável. Que nestas eleições, haja um compromisso dos políticos com a memória, a história e a ciência. Minha solidariedade a todos os trabalhadores e pesquisadores”, disse o professor Thomas de Toledo, doutorando em Arqueologia pelo MAE/USP.
O ministro da Educação, Rossiele Soares, prometeu o impossível: “O MEC não medirá esforços para auxiliar a UFRJ no que for necessário para a recuperação desse nosso patrimônio histórico.” Não é possível recuperar o que foi destruído.
O prédio, além de sediar a Monarquia, foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891 antes de virar museu, em 1892. É tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O presidente Michel Temer também lamentou a tragédia. Em nota, lembrou que foram “perdidos 200 anos de trabalho, pesquisa e conhecimento”. Temer classificou o episódio como perda incalculável. “Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento.” A nota acrescenta que “o valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros”.
O presidente só não falou sobre a responsabilidade de seu governo no corte de verbas para o museu. Agumas salas do prédio já estavam interditadas por risco de desabamento e pela ação de cupins.
Emocionada, a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Cerezo, atirou-se ao chão ao chegar ao local. Ela afirma que havia muitos produtos inflamáveis no interior do prédio, mas que existia um plano para retirar essas substâncias do museu. “Infelizmente, a tragédia aconteceu antes”, afirmou. Tragédias são assim. Acontecem antes que alguém tome iniciativa para evitá-las.
*Atualizado às 7h de 03/09/2018