Desde setembro, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) está transferindo as cerca de 1,3 milhão de peças e objetos arqueológicos encontrados na Região Portuária durante as obras da Operação Urbana do Porto Maravilha. O acervo, que está sob guarda do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (LAAU), estava em dois galpões na Gamboa e agora tem novo endereço: o histórico Galpão Docas Pedro II, no Cais do Valongo.
A transferência é resultado de um amplo acordo firmado entre IRPH, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Ministério Público Federal e Governo Federal. No prédio de Docas, que é um bem tombado e construído no século XIX pelo engenheiro André Rebouças, irá funcionar o Centro de Interpretação do Valongo, espaço dedicado à promoção da cultura afro-brasileira e a valorização do sítio arqueológico do Cais do Valongo.
O projeto de restauração de Docas, que por anos anos foi sede da Ação da Cidadania, ONG de combate à fome criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, está sendo elaborado pelo Iphan e o complexo será administrado pelo Governo Federal, tendo o LAAUum espaço dedicado à exposição do acervo encontrado nas obras na Região Portuária.
O material inclui desde peças pequenas e médias, como fragmentos de cerâmicas, louças, vidros e ossos, até objetos maiores, como dois canhões, roda de locomotiva, quilhas de navios e ancoras. Todo o acervo passou por um trabalho de proteção e resguardo para a mudança e no momento está encaixotado. O acesso do público e imprensa ao material está suspenso até que o galpão seja restaurado e entregue à população do Rio de Janeiro.
Pelo acordo, cabe agora ao Governo Federal e a Fundação Palmares, instituição pública federal voltada para promoção e preservação dos valores negros na sociedade brasileira, realizarem o processo licitatório para contratação de empresa responsável pela reforma do imóvel, em conformidade com o projeto executivo já contratado. O prazo para o lançamento do edital do que muitos já chamam de o “Museu da Escravidão” se encerrou em outubro.
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A reportagem do DIÁRIO DO PORTO entrou em contato com a Fundação Palmares e com Iphan em busca de informações sobre os procedimentos adotados para a restauração do histórico edifício que foi erguido sem uso de mão de obra escrava. Não obtivemos resposta até a conclusão desta reportagem.
A criação do Centro de Interpretação é uma das contrapartidas solicitadas pela UNESCO para a manutenção do sítio do Cais do Valongo como Patrimônio Histórico da Humanidade. O título está sob ameaça por conta da falta de ação do Governo Federal em atender as diversas exgiências da agência das Nações Unidas responsável pelo reconhecimento e valorização do patrimônio histórico mundial.