Biólogos estão usando um drone com câmera sensível ao calor para monitorar uma população de cerca de 120 muriquis-do-sul, primatas que habitam a região do Parque Estadual dos Três Picos, em Cachoeiras de Macacu (RJ). O monitoramento começou no ano passado, em um projeto que pretende acompanhar esses animais, considerados criticamente ameaçados de extinção, havendo apenas 1.200 indivíduos nas suas áreas de habitat, na Mata Atlântica.
O muriqui-do-sul é o maior primata do continente americano, podendo pesar mais de 12 quilos e medir até 1,5 metro. Sua interação com o ecossistema, apontam os biólogos, é vital para a manutenção da flora. Com uma alimentação baseada em frutos, folhas, cascas, flores, pólen e néctar, ele dispersa sementes de diferentes tipos de plantas, contribuindo para a renovação das florestas.
Nas últimas semanas, pela primeira vez, o drone termal conseguiu captar imagens de dois grupos de muriquis. A nova tecnologia está sendo usada pelos pesquisadores apoiados pelo Projeto Guapiaçu, realizado pela organização Ação Socioambiental, em parceria com a Petrobras.
Para Reginaldo Honorato, pesquisador de biodiversidade do Caminho da Mata Atlântica, instituição que recebe apoio do Projeto Guapiaçu, os avistamentos indicam que a espécie está presente na área e se reproduzindo. “Já foram avistados fêmea com filhote e diversos animais jovens. Este trabalho de rastreamento gera informações fundamentais para a conservação dos muriquis, como tamanho populacional, número de grupos sociais, dinâmica e uso do espaço”, explica.
Muriquis são ameaçados pela destruição da Mata Atlântica
O primeiro avistamento na floresta ocorreu na manhã do dia 16 de julho. Diante das boas condições de tempo, o drone levantou voo e, por volta das 9h40, cerca de 12 muriquis foram localizados e as imagens de cinco deles, feitas. O segundo avistamento ocorreu no dia 12 de agosto, às 9h45. Com o uso da aeronave, um grupo de seis animais, provavelmente jovens-adultos, foi localizado.
“Conforme novos avistamentos venham a ocorrer, poderemos responder a algumas questões-chave que envolvem a espécie, entender melhor suas interações com outros grupos de primatas, com o clima, com as estações e com diversos componentes florestais”, comemora Honorato.
O monitoramento dos muriquis na Reserva Ecológica Guapiaçu (Regua) e em outras partes do Parque Estadual dos Três Picos ocorre desde 2017. O uso de drone termal nas buscas, no entanto, foi iniciado apenas no ano passado, com o objetivo de facilitar o acesso aos animais. A cada dia, a equipe de pesquisadores percorre por terra cerca de 16 quilômetros, realizando buscas na parte alta do parque. Ao encontrarem indícios da presença dos muriquis, eles decolam o drone para tentar fazer imagens captadas com o calor do corpo dos animais.
O drone termal oferece uma vantagem significativa em relação ao equipamento convencional, já que a captura de imagens por infravermelho proporciona maior visibilidade na paisagem. Essa tecnologia se torna ainda mais eficaz em dias frios ou nublados, quando o contraste térmico entre o dossel (a cobertura formada pelas copas das árvores) e os animais presentes é acentuado, facilitando a detecção.
O muriqui está ameaçado e seu nome faz parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Os principais motivos para a redução da sua população são a destruição do seu habitat, a Mata Atlântica entre o Norte do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e a caça.
O Projeto Guapiaçu, realizado pelo Ação Socioambiental, com a parceria da Petrobras, tem como objetivo contribuir para a melhoria socioambiental da região da Baía de Guanabara e entorno. A área de abrangência do projeto insere os municípios de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Magé, Itaboraí e Maricá. Esta região hidrográfica é responsável pelo abastecimento de água de quase três milhões de pessoas.
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