Um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África – nome dado por Heitor dos Prazeres a um área da Região Portuária-, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), vizinho ao Cais do Valongo (Patrimônio Mundial), na Gamboa, será inaugurado hoje depois de quatro anos de espera. O espaço foi criado em 2017, via decreto, mas nunca funcionou como tal. A atual gestão da Secretaria Municipal de Cultura executou a limpeza e o restauro do espaço que se tornará o novo centro de preservação e valorização da história preta da Pequena África.

No equipamento, o público terá a chance de conferir algumas das obras do acervo, que guarda aproximadamente 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias, além de trabalhos de artistas plásticos contemporâneos de matriz africana que dialogam com o espaço. Por ser um museu de território, as edificações e os elementos urbanos também são catalogados como acervo territorial. O Muhcab foi concebido para ser um museu de tipologia híbrida nas categorias céu aberto, responsabilidade social, histórico e território.
Em maio deste ano, o Muhcab ganhou um site criado da cooperação internacional da Prefeitura do Rio com a Unesco, via Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com o projeto Territórios Negros: https://www.rio.rj.gov.br/web/muhcab.
Um tour pelo Muhcab
A visitação começa na entrada, onde há uma carranca dando as boas-vindas aos visitantes. Na primeira sala, nomeada Conceição Evaristo, um mapa gigantesco na parede traz as rotas do tráfico de escravos da África para o Brasil. O destaque ali é a instalação “Tecendo raízes”, uma ciranda com tecidos africanos que conta as origens dos povos ancestrais. Em seguida, na sala Agnaldo Camargo, uma série de plantas com fins de cura, cada uma relacionada a um orixá, além de esculturas em barro dos mesmos orixás, feitas por Carmem Barros.
Na sala Grande Otelo, textos e fotos sobre temas como o mito da democracia racial, ditadura e resistência. Ali estão três telas de Nelson Sargento, baluarte da Estação Primeira de Mangueira, e também um acervo fotográfico com imagens da atriz Ruth de Souza e do Teatro Experimental do Negro (TEN).

A sala do Educativo leva o nome de Mestre Marçal e terá atividades com crianças e adolescentes. Por último, o espaço Abdias do Nascimento oferece uma linha do tempo e vídeos com a história do Muhcab e uma obra interativa onde o visitante literalmente viaja pela Pequena África.
Duas telas do acervo são destaque na exposição “Protagonismo: memória, orgulho e identidade”,
que marca a retomada: “Árvore Calcinada”, de Nelson Sargento; “Sambistas”, de Heitor dos Prazeres, e uma criada especialmente para o novo espaço expositivo (sem título), de Artedeft, artista que utiliza pintura e
colagem digital para expor a realidade urbana e periférica.

No auditório, a ideia é promover encontros, palestras, seminários e debates. O pátio será palco de rodas de samba, jongo e outros ritmos, além de ponto de encontro, com comes e bebes inspirados na culinária afro.
PROGRAMAÇÃO – NOVEMBRO NEGRO
Hoje
12h às 12h15 – Toque de abertura com o Ogã e percussionista Kotoquinho, que faz uma apresentação de atabaque.
13h30 às 16h – Roda de samba – Tributo a Zé Ketti, com membros da família Ketti Meireles.
14h – Teatro: Cia Cerne apresenta o espetáculo “Turmalina 18 – 50”, sobre João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, personagem marcante na luta por igualdade racial no Brasil.
16h – Roda de Jongo com o Fuzuê d’Aruanda, grupo que leva para
as ruas de Madureira os ritmos e as danças da cultura popular.
Quinta
18h – Roda de samba com As Mulheres da Pequena África, um grupo de resistência, para marcar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, uma data para reforçar a luta de combate e eliminação das várias formas de violência que vitimam as mulheres em todo o mundo.
Sábado
16h – Roda de conversa com o carnavalesco Leandro Vieira e a pesquisadora Helena Teodoro, sobre o tema “Enredos e identidades negras”.
Serviço
MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira
Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa.
Quinta a sábado
10h às 16h.
Grátis. Livre.