A Mocidade Independente de Padre Miguel leva neste Carnaval para a Sapucaí o enredo “Batuque ao Caçador”, que exalta o orixá Oxóssi e rende homenagens a personalidades de sua própria história. A mata, segundo o carnavalesco Fábio Ricardo, é o lugar do orixá padroeiro da escola e um bom cenário para o enredo.
Uma das homenageadas será Tia Chica, dona do terreiro onde surgiu a Mocidade. Veja aqui a sinopse do enredo.
Elza Soares em 2020
O último desfile da Mocidade, uma das maiores campeãs do Sambódromo, foi uma emoção e tanto para a cantora Elza Soares Em 2020, o enredo Elza deusa Soares teve samba de Sandra de Sá e de DR Márcio, Igor Vianna, Jefferson Oliveira, Prof. Laranjo, Renan Diniz, Solano Santos e Telmo Augusto.
O desfile exaltou Elza como um modelo de força, resistência e inspiração. Contou a história Elza desde os anos 1950, destacando feitos, como as parcerias com Louis Armstrong e Astor Piazzolla, e também sua atuação em lutas por respeito e igualdade. A estrela morreu em 20 de janeiro deste ano, aos 91 anos.
A cantora emocionou ao aparecer na Avenida em um trono no último carro da escola, no qual um homem balançava uma bandeira onde se lia uma mensagem importante: “Respeita as mina, as mona e as mana”. Na Praça da Apoteose, ovacionada, provocou uma comoção.
História da Mocidade
Fundado em 10 de novembro de 1955, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel tem suas origens em um time de futebol, o Independente Futebol Clube. Entre os fundadores estão Silvio Trindade (Tio Vivinho), Alfredo Briggs Filho, Renato da Silva, Djalma Rosa, Olímpio Bonifácio, Ivo Lavadeira, Orozimbo de Oliveira, Mestre André, Tião Marino, Altamiro Menezes (Cambalhota), Geraldo de Souza (Prego).
As comemorações dos jogos do Independente Futebol Clube eram no Ponto Chic, bairro de Padre Miguel. Os jogadores, bons de bola e excelentes na percussão, reuniam-se em rodas de samba que mais pareciam bloco carnavalesco. Sob as bênçãos de uma estrela, encarnando as cores verde e branco do uniforme esportivo, nasceu a Escola de Samba Mocidade do Independente.
Escola nunca foi rebaixada
Em 1956, a agremiação desfilou em Padre Miguel com o tema “Navio Negreiro”, inspirado no poema de Castro Alves. Já no ano seguinte integrava o desfile oficial na Praça Onze com o enredo “Baile das Rosas”. Ficou em quinto lugar, iniciando uma trajetória de muitas conquistas. A primeira veio logo, em 1958: primeiro lugar no segundo grupo e ascensão à elite do carnaval. Desde então, a Mocidade Independente de Padre Miguel faz parte do seletíssimo grupo de escolas de samba que nunca foram rebaixadas do Grupo Especial.

A consolidação como escola grande veio nos anos 1970, quando começou a ser patrocinada por Castor de Andrade. Em 1976, empatou em segundo lugar com a Mangueira e perdeu o desempate por ter um ponto a menos na famosa “bateria nota 10”. Em 1979, sob a batuta do carnavalesco Arlindo Rodrigues, veio o primeiro campeonato com “O Descobrimento do Brasil”.
No ano seguinte chegou Fernando Pinto para produzir desfiles excepcionais e projetar-se como um dos mais inventivos carnavalescos já conhecidos. Venceu em 1985 apresentando o enredo futurista “Ziriguidum 2001”. Um ano antes, a Mocidade tinha inventado a figura da rainha de bateria, com a modelo Monique Evans, uma das deusas do Sambódromo.
O carnavalesco Renato Lage foi outro patrimônio valioso de Padre Miguel. Nos anos 90, a ousadia de suas alegorias arrastou mais três títulos: 1990 (“Vira, virou, a Mocidade chegou”) e 1991 (“Chué… chuá… As águas vão rolar”). Em 1996, de novo Renato Lage fez os colegas comerem poeira na Sapucaí: “Criador e criatura”. O samba é inesquecível:
“A mão que faz a bomba, faz o samba
Deus faz gente bamba
A bomba que explode o nesse carnaval
É a Mocidade levantando o seu astral”
O Criador foi menos generoso com a escola nos anos seguintes, embora nunca tenha perdido o lugar entre as melhores. Castor de Andrade, patrono e mito, morreu em 1997. Em 2011, a Mocidade Independente de Padre Miguel quase caiu para o segundo grupo da elite do samba, ficando em 11º lugar, a pior colocação da era Sambódromo.
Só em 2017 voltou a erguer a taça, e mesmo assim mais de um mês após o Carnaval, em um episódio polêmico. O resultado oficial da quarta-feira de Cinzas deu o campeonato à Portela, mas a Liesa decidiu, em 5 de abril, dividir o troféu com a verde e branco. O motivo foi o erro de um jurado na avaliação do quesito enredo.
A LETRA DO SAMBA 2022
Okê Arô, Ofá da mira certeira
Okê Arô, Ofá da mira certeira
Dono da mata, Okê, Okê, Mutalambô
Seu ajeum já preparei na quinta-feira
No fundamento, a batida incorporou
Samborê, pemba, folha de jurema
Há proteção de Ogboju Odé
Pai Oxalá lhe deu seu diadema
Quem rege meu ori governa minha fé
Nos idilês a ancestralidade
O Alaketu no Egbê da Mocidade
Oxóssi é caçador de uma flecha só
Herdeiro de Iemanjá, irmão de Ogum
Aquele que na cobra dá um nó
Aquele apaixonado por Oxum
Oxóssi é caçador de uma flecha só
Herdeiro de Iemanjá, irmão de Exu
Aquele que na cobra dá um nó
Aquele apaixonado por Oxum
Ibualama o mar atravessou
No Gantois, virou São Jorge guardião
Um rio inteiro em teu nome, meu senhor
Quem é de Oxóssi é de São Sebastião
Ô, Juremê, ô, Juremá
Caboclo lá da jurema é cacique nesse congá
Ô, Juremê, ô, Juremá
Mandiga de Tia Chica fez a caixa guerrear
Inverteu meu tambor
De Dudu e de Coé, foi Quirino, foi Miquimba
De Jorjão, o agueré
Fez do aguidavi, baqueta da nossa gente
Pra evocar nesse terreiro toda alma Independente
Arerê, Arerê, Komorodé
Komorodé, Arolé, Komorodé
Arerê, Arerê, Komorodé
Todo Ogã da Mocidade é cria de Mestre André
Composição: Cabeça Do Ajax / Carlinhos Brown / Diego Nicolau / Gigi Da Estiva / J.J. Santos / Nattan Lopes / Orlando Ambrosio / Richard Valença.
Ouça o samba aqui