Para ler na rede
A pandemia levou muita gente a ter um novo olhar para a vida no lar e a desmistificar o padecimento ao enfrentar uma faxina. Também se percebeu que as casas podem se tornar imensos contêineres de quinquilharias jamais utilizadas. Tais constatações que afligem a classe média vêm há algum tempo saindo das páginas de revistas para se condensarem em livros.
Bem antes do sucesso da guru de arrumação Marie Kondo, os norte-americanos já haviam tornado janeiro o mês do decluttering, algo que pode ser traduzido como “livrar-se da tralha” – e até criaram “organizadores profissionais” especializados em arrumar armários e jogarem fora o desnecessário, como papéis, fotografias repetidas, cartões de Natal recebidos, brindes de festas, recibos, caixinhas que pertenceram aos antepassados, velas, sachês de ketchup e mostarda entregues junto com pizza. E mais um monte de tranqueira adquirida vida afora.
Para essas pessoas, nada melhor do que os ensinamentos da artista plástica sueca Margareta Magnusson, que em O que deixamos para trás (Intrínseca, R$ 39,90) faz um guia do döstädning, uma prática comum em seu país de, chegando próximo ao previsível fim da existência, desapegar-se dos objetos que podem ser considerados um fardo para parentes e amigos. O inventário do que é indispensável para continuar no planeta não precisa ser doloroso, pois ao se desvencilhar da tranqueira – e encontrar um destinatário para as bugigangas —, cada um se despede das peças, ao refletir sobre as lembranças associadas a elas. É quase o que Kondo recomenda: manter apenas o que é útil e o que dá prazer. No caso de livros, ela já contou que reduziu sua biblioteca a 100 volumes, diminuindo, mais tarde, para apenas trinta.
Margareta aconselha o uso de caixas diferentes para lixo, descarte e manutenção, indicação de 10 entre 10 arrumadores da tranqueira nossa de cada dia que esvaziam as casas de acumuladores compulsivos. A artista plástica tem cinco filhos, aos quais já entregou algumas roupinhas de bebê guardadas por anos e que passaram para os netos. Descrevendo-se como alguém entre os 80 e 100 anos, ela jura que o minimalismo é um alívio.
Boa parte do acúmulo vem do tempo em que se cria os filhos. É para mulheres de classe média brasileira, que ainda têm o lar repleto de rebentos, que se dirige Quem tem medo de faxina? (Intrínseca, R$ 49,90), de Carol Zappa e Suhellen Kessamiguiemon, um manual para a manutenção de casa. A tradição escravagista impedia que muitos brasileiros de classe média, principalmente os homens, se encarregasse da limpeza e arrumação doméstica, cujos segredos a mineira Suhellen revelava no Instagram desde que criou o perfil @diario.da.diarista. A principal recomendação de Suhellen para esses novatos na faxina, que precisaram se entender com vassouras, panos de pó e rodos depois que a PEC das domésticas tornou a função acima dos padrões financeiros de boa parte dos brasileiros, é compartilhar a responsabilidade pelos cuidados com toda a família. A jornalista Carol auxiliou a dar forma ao livro, com dicas para evitar a canseira, entre elas a de distribuir as tarefas para dias diferentes ao longo da semana. E a praticar a arte do desapego, claro, se livrando de tudo o que não é usado, mas fica guardado, à espera de, quem sabe, um dia, fazer-se necessário.