
EDITORIAL – O debate sobre a legalização do jogo no Brasil adormece há 72 anos. Foi proibido em função dos riscos do vício e do avanço de práticas como a lavagem de dinheiro. Setores historicamente contrários ao jogo, no entanto, têm sido batidos pelas evidências de que basta um smartphone na mão para tirar um cidadão do alcance da lei e da boa intenção de quem pensava agir para protegê-lo contra os maus hábitos. O jornal O Globo, por exemplo, sinalizou em editorial desta semana uma guinada radical em seu alinhamento com setores religiosos contrários aos jogos de azar. Não é pouca coisa.
O jornal citou a estimativa de um gasto per capita de US$ 18,53 de brasileiros com o jogo on line, o que gera em outros países impostos bilionários. Deixar de jogar luz sobre uma atividade ilegal que cresce diante da vista de todos passa a não ser inteligente em um país aberto. A corrente mais forte entre os lobbies pela legalização do jogo no Brasil propõe restringi-los a cidades turísticas e resorts. Um primeiro projeto, considerado permissivo demais, foi rejeitado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já anunciou que espera aprovar este ano a regularização dos cassinos de forma integrada ao complexo turístico do país.
Caso a legalização do jogo no Brasil seja aprovada, o potencial de atração de turistas e geração de empregos torna estratégica a escolha dos locais das construções. Os players econômicos do Porto Maravilha precisam se articular para mostrar o óbvio às autoridades responsáveis pelas decisões. As âncoras culturais e de entretenimento fizeram da região, em pouco tempo, um dos pontos turísticos mais visitados do país.
O exemplo de Buenos Aires merece atenção. No fim dos anos 90, empresários argentinos montaram um cassino em um navio ancorado no Puerto Madero – ou seja, na água, fora do solo. Foi um drible para lá de polêmico na constituição argentina, mas o fato é que o Casino Puerto Madero ajudou a transformar o porto revitalizado no principal ponto turístico portenho. O navio de jogos tem três andares e funciona 24 horas por dia, sem descanso. A entrada é grátis, o que atrai ainda mais os turistas.
Falta muito para reverter o resultado das décadas de desinvestimento e miopia diante do potencial da Região Portuária, tão estratégica para a economia carioca. O mínimo que se pode esperar, agora que os primeiros passos da reurbanização foram dados, é que a cidade não perca novas oportunidades para consolidar este polo vigoroso de transformação urbana. A possível legalização do jogo no Brasil é uma delas.
Poucas áreas no país têm mais estrutura para sediar um cassino de grandes proporções do que o Porto Maravilha. Há terrenos de grandes dimensões, acesso rápido a dois aeroportos e a todos os modais de transporte, vistas invejáveis para a Baía de Guanabara e mão de obra abundante. A ideia depende de um projeto consistente e sedutor e do engajamento dos agentes econômicos que têm negócios na região, dos políticos e dos urbanistas cariocas. Todos têm perfeita noção da importância crucial da ocupação da Zona Portuária para o desenvolvimento e a integração da cidade inteira.