
Dizem que santo de casa não faz milagre. E a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro confirma o ditado. A presença dos generais Walter Braga Netto no Palácio Duque de Caxias e Richard Nunes no prédio da Central do Brasil não intimidou a bandidagem na região. Pelo contrário: nos nove meses de intervenção no Rio, os crimes de roubo e furto aumentaram na Região Portuária (Gamboa, Santo Cristo e Saúde) e no Centro.
Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP), também sediado no prédio da Central do Brasil. O ISP divide o estado em Circunscrições Integradas de Segurança Pública (Cisp). De modo geral, a Cisp corresponde à área de responsabilidade da Delegacia de Polícia. Na Cisp 4, que compreende os três bairros do Porto Maravilha (Saúde, Gamboa e Santo Cristo), os roubos de rua subiram 17% no período da Intervenção Federal, de 890 para 1.045. É exatamente onde ficam os prédios da Secretaria de Segurança e do Comando Militar do Leste, ou seja, o QG da Intervenção no Rio.

Na vizinha Cisp 1 (Centro), o percentual de crescimento do roubo de rua foi pior: de 567 para 831 casos (+ 47%). Na Lapa (Cisp 5), que teve o reforço do programa Lapa Presente, bancado em grande parte pela Fecomércio-RJ, houve uma redução de 16%, mas os números continuam incompatíveis com os esforços para estimular o turismo na região: 1.635 casos registrados no período de 2017 e 1.377 em 2018.
O DIÁRIO DO PORTO fez o comparativo, conforme orientação do ISP, considerando o períodos de abril a novembro de 2017 em comparação com o mesmo período em 2018. Isso porque, apesar de ter sido decretada em fevereiro de 2017, a Intervenção no Rio, segundo o ISP, só começou a atuar efetivamente em abril. Além disso, o movimento grevista da Polícia Civil de janeiro a março de 2017 provocou uma redução de registros que afeta a base de comparação.
Os casos de homicídios dolosos também subiram na Região Portuária, que engloba o entorno degradado do Palácio Duque de Caxias e da Central do Brasil. Passaram de 11 para 17 casos, um aumento de 55%. Na Cisp 1 (Centro), que não registrou esse tipo de crime em 2017, foram dois em 2018. Na região da Lapa (Cisp 5), os casos caíram pela metade, de oito para quatro.
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O roubo em coletivo, quando há ameaça do bandido ao passageiro, cresceu bastante no período dos generais nas três áreas analisadas pelo DIÁRIO. Na Região Portuária, QG da Intervenção no Rio, o aumento foi de 24%: de 156 para 194 casos. O percentual de crescimento foi ainda maior na Cisp 5 (Lapa), de 64 para 90, ou seja, 41%. Na área mais central (Cisp 1), foi de 40 para 54 casos (35%).
No item furto em coletivo, quando não há ameaça, mas o marginal surrupia algum objeto sem que a vítima perceba, só a área da Lapa (Cisp 5) registrou queda (de 9%). Eles caíram de 102 para 93 casos. Na Região Portuária, a modalidade subiu 12%, de 172 para 193. No Centro, o crescimento foi o maior: 61%, de 76 casos para 122.
O total de roubos, de um modo geral, caiu 9% no Estado, de 168.597 casos para 152.767, mas explodiu na área da Cisp 1, o Centro da cidade: 41% de aumento, passando de 723 para 1.021 registros. Na Região Portuária, também subiu (11%), de 1.202 para 1.331. Na área da Cisp 5 (Lapa), houve redução de 8%: de 2.177 para 2.000 episódios registrados.
Para não terminar sem uma boa notícia, essa vai para quem gosta de pedalar. A redução no furto de bicicletas foi bem significativa. No Centro (Cisp 1), o índice caiu 76%: de 25 casos em 2017 para seis em 2018. Na Cisp 5 (Lapa), caiu ainda mais, de 35 para seis casos (menos 83%). Na Região Portuária, o número se manteve em seis casos. Houve raros registros de roubo de bicicleta: um caso na Cisp 1 (zero em 2017), nenhum na Região Portuária (como em 2017) e três na Cisp 5 (dois em 2017).