Em 2012, quando a Fábrica de Startups surgiu em Portugal, o país estava arrasado pela crise financeira e consumido pela dores da integração à Zona do Euro. “Saindo da crise, Portugal criou o melhor ambiente da Europa para a economia criativa”, contou Hector Gusmão, CEO que instalou a filial brasileira no imponente Aqwa Corporate, construído pela Tishman Speyer. Gusmão abriu o 1º Fórum de Soluções para o Porto Maravilha, como palestrante do painel Como empreender na economia criativa.
O jovem executivo citou números grandiosos para ilustrar como o mundo inteiro apostando as fichas na economia da inovação, “enquanto nós estamos ficando para trás, apesar de ter tudo o que precisamos”. Lembrou que houve um grande esforço do ecossistema de inovação para criar a Lei do Porto 21 e um hub de tecnologia na região portuária, mas que nada foi para a frente. E não é por falta de oportunidades, já que o dinheiro nunca foi tão ávido na procura por boas ideias.
“Em 2004, a gente contava nos dedos quantas startups chegavam a 1 bilhão de dólares no mundo. Hoje, é impossível contar. Este ano, saímos de zero para 10 startups de 1 bilhão aqui. Em 2017, assumimos a condição de cidade mais inovadora do pais em função da nossa diversidade, mas somos apenas a 6° melhor para empreender no Brasil e uma das piores em cultura empreendedora, ou seja, pessoas que vejam valor e queiram empreender”, lamentou o CEO.
Gusmão ressaltou a iniciativa da Fábrica de apoiar a Escola 42, francesa, que forma gratuitamente mão de obra para tecnologia: 450 jovens serão graduados por ano. É o melhor caminho para o futuro, e nenhum lugar do país está mais equipado para hospedar essa revolução do que o Porto Maravilha.

Foi no Porto Maravilha que Hector Gusmão enxergou as condições para repetir o sucesso de áreas renascidas em metrópoles como Nova York (Brooklin e Harlem), Leste de Londres, Paris e Cidade do Cabo. Em um andar inteiro do Aqwa Corporate, com decoração desinibida e disruptiva, a Fábrica conecta mentes criativas à demanda de empresas gigantes. No primeiro ano, recebeu 2 mil empreendedores e 500 startups inscritas, e trabalha com 190 startups, fazendo negócios com 28 grandes empresas.
A violência é o inimigo
O empresário Sávio Neves, que ajudou a trazer a roda gigante Rio Star para a vizinhança do Aqwa, definiu como “sopro de esperança” o recado de Hector Gusmão. Presidente do Trem do Corcovado, Neves enumerou alguns obstáculos para que o Rio dê o salto que cidades como a chinesa Shenzhen já deram. “Nós não conseguimos nem mesmo ligar por água os aeroportos do Galeão e Santos Dumont, algo que só depende de decisão política!”, exemplificou. Muitos viajantes e empresas, segundo o empresário de turismo, evitam o Aeroporto Internacional Galeão Tom Jobim com medo dos engarrafamentos e da violência na Linha Vermelha. A falta de segurança é, na opinião de Sávio Neves, o maior inimigo da economia criativa no Rio.
A insegurança púbica e as cicatrizes que ela deixa na cidade foram abordadas também por Aline Mendes, que representou a ONG Impacto das Cores. O projeto consiste em reaproveitar sobras da construção civil, especialmente tintas, para produzir arte no Morro da Providência e em outros locais para onde já foi exportado. Aline foi aplaudida ao cobrar ações efetivas para incorporar a população da primeira favela do país à economia movimentada pelos grandes equipamentos públicos, especialmente a Central do Brasil, por onde passam 700 mil pessoas por dia.
‘A onda leva quem só olha para o mar’

Aline inundou o Fórum de indagações que fazem todo o sentido em uma região que tem tudo para ser um polo nacional de economia criativa. Por que a experiência da Fábrica Bhering não extrapola a bolha e transforma o Morro do Pinto, com suas belas casas preservadas, em uma nova Santa Teresa, com arte e cultura? Por que os investidores do turismo não exploram a visão 360 graus do Morro da Providência? Por que o teleférico da Providência segue parado, deixando de ligar a comunidade à Cidade do Samba e a incrível economia do Carnaval?
VEJA TAMBÉM:
A msg de Hector Gusmão, da Fábrica de Startups, aos jovens das favelas
Fórum apresenta soluções para melhorar a vida no Porto
Dona Jura, a chef das delícias do Morro da Providência
“Todo mundo aqui sabe da importância do carnaval do Rio, independentemente da opinião do prefeito. Com prefeito ou sem prefeito, o carnaval do Rio vai sempre acontecer com sucesso”, provocou a debatedora. “Todos temos que saber enxergar o potencial verdadeiro do Porto. O Bar da Jura, na Providência, já recebeu a prefeita de Nova York, o fundador do Youtube, várias personalidades mundiais, e por que vocês não vão lá? Pelo amor de Deus, vamos parar de ficar olhando para o mar o tempo todo. Desse jeito, a onda leva. Eu tenho um olho grande no dinheiro que circula na Central do Brasil, e vocês deveriam ter também”, brincou a artista.
Fortalecer o ecossistema do empreendedorismo
O empresário Rafael Barreto falou sobre a experiência inovadora da Fábrica Bhering, citada por Aline. É uma iniciativa de sucesso em produção artística que tem convivido em sintonia com a vizinhança. O condomínio de ateliês quer comemorar em grande estilo seus 15 anos em 2020. Barreto manifestou o desejo de espalhar o sucesso da Bhering para toda a região portuária, aproveitando a boa infraestrutura. “Em termos de logística não temos nada igual no Rio de Janeiro”, ressalta, ressaltando, como muitos outros debatedores fizeram, a necessidade de mais lojas, restaurantes e moradias de qualidade.
O primeiro painel foi mediado por Rafael Ponzi, dirigente do Clube Empreendedor, parceiro do DIÁRIO DO PORTO na realização do 1º Fórum de Soluções para o Porto Maravilha. “Nossa missão é estimular o surgimento de empreendedores e criar um ambiente de troca de experiências e de fortalecimento desse ecossistema”, disse Ponzi.