Diário do Porto

Unidos da Tijuca, da origem centenária à inovação de Paulo Barros

A tradicional Unidos da Tijuca ganhou campeonatos com a inovação de Paulo Barros (Foto Fernando Grilli/Riotur)

Sob o comando de Paulo Barros, a Unidos da Tijuca fechou o carnaval de 2014 (Foto: André Lobo/Riotur)

A Unidos da Tijuca é uma das mais antigas escolas de samba do Rio de Janeiro, com origens na década de 1930. Venceu seu primeiro carnaval quando tinha cinco anos, em 1936, com o enredo “Sonhos Delirantes”. Depois disso, só voltou à consagração 74 anos depois, em 2010, com a explosão criativa do carnavalesco Paulo Barros no enredo “É Segredo”.

Dois anos depois, nova consagração com Paulo Barros e o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”. A escola recebeu nota máxima de todos os jurados em três quesitos: Comissão de Frente, Harmonia e Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Mais dois anos e nova conquista, em 2014, com “Acelera, Tijuca“, enredo de Paulo Barros em homenagem a Ayrton Senna.

Fusão de blocos tijucanos

A Unidos da Tijuca foi criada da fusão de quatro blocos dos morros da Casa Branca da Formiga e Ilha dos Velhacos. Em 1931, no dia 31 de dezembro, na subida da Rua São Miguel, 130, na casa 20, da família Vasconcelos, homens e mulheres se uniram para fundar a escola. A Unidos da Tijuca tem o pavão real como símbolo e o azul e o amarelo ouro como cores. Existem duas histórias que justificam a adoção desta identificação pela agremiação.

Na fundação, a Unidos da Tijuca primeiramente adotou como símbolo o emblema representando mãos entrelaçadas em união com o ramo de café, em referência à Tijuca antiga com suas plantações. O amarelo ouro e o azul-pavão foram adotados da Casa de Bragança, a Corte Imperial. Indicavam bom gosto em suas vestimentas. Ambos, símbolo e cores, são atribuídos como idéias de Bento Vasconcelos, um dos principais fundadores da Unidos da Tijuca.

Outra vertente registra que, em 1931, existia ao pé do morro do Borel a “Grande Fábrica de Cigarros, Fumos e Rapé de Borel & Cia”. A vistosa figura de um pavão-real, nas cores azul e amarelo ouro, estampava as embalagens de alguns produtos da fábrica e tabacaria. Ali perto, na subida da Rua São Miguel, homens e mulheres, moradores do local e adjacências, fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca, adotando o pavão como símbolo e as cores azul e amarelo ouro, em referência ao logotipo identificador da empresa de cigarros.

Um pavão no lugar do ‘sofrimento’

Para a inclusão do pavão como símbolo no Abre-Alas da Unidos da Tijuca, há outra história. Em 1983, entre agosto e setembro, a escolha escolhia o samba-enredo e se preparava para abrir o primeiro desfile do Sambódromo. Muita responsabilidade. O pavão já figurava como símbolo em camisetas com propaganda do enredo daquele ano da Unidos da Tijuca: “Salamaleikum, a epopéia dos insubmissos malês”.

Em 2011, a escola tijucana voltou a abusar dos efeitos especiais (Foto: AF Rodrigues/Riotur)

Consta que o compositor Carlinhos Melodia sugeriu ao presidente Luis Carlos Cruz que fosse colocado o pavão no abre-alas, pois enquanto as concorrentes tinham aves e outros animais vistosos para atrair o público, o símbolo da Unidos da Tijuca – duas mãos entrelaçadas e circundadas por dois ramos, um de café e outro de fumo, com as letras UT, abreviação de Unidos da Tijuca – remetia a sofrimento.

Atendendo à sugestão do compositor, a Unidos da Tijuca teria substituído o símbolo anterior da agremiação. Em 1984, a escola entrou pela primeira vez na Avenida com o pavão como símbolo.

 

O carnaval de 2020

Em 2020 a escola apresentou o enredo “Onde moram os sonhos“, com a arquitetura e as belezas naturais da cidade do Rio de Janeiro. Depois de seis anos, o carnavalesco Paulo Barros retornou prometendo surpresas, mas a Tijuca acabou em nono lugar. Conheça o samba-enredo composto por Dudu Nobre, Jorge Aragão, Fadico, André Diniz e Totonho.

O sol nasce em minha alma

Vai tomando o peito e ganhando jeito

Se eternizando, traduzido em forma

O mais imperfeito, perfeição se torna

Lá no meu quintal, eu vou fazer um bangalô

Já foi tapera feita em palha e sapê

E uma capela que a candeia aluminou

A lua cheia…

Vem, é lindo o anoitecer

Vai, eu morro de saudade

Tomo mundo um dia sonha ter

Seu cantinho na cidade

Como é linda a vista lá do meu Borel

Luzes na colina, meu arranha-céu

Linhas do arquiteto, a vida é construção

Curva-se o concreto, brilha a inspiração

Lágrima desce o morro

Serra que corta a mata

Mata, a pureza no olhar

O Rio pede socorro

É terra que o homem maltrata

E meu clamor abraço o Redentor

Pra construir um amanhã melhor

O povo é o alicerce da esperança

O verde beija o mar, a brisa vai soprar

O medo de amar a vida

Paz e alegria vão renascer

Tijuca, faz esse meu sonho acontecer

A minha felicidade mora nesse lugar

Eu sou favela

O samba no compasso é mutirão de amor

Dignidade não é luxo, nem favor

O texto foi baseado no site da escola 

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