O leilão do Edifício A Noite, no coração da Praça Mauá, havia sido prometido pelo Governo Federal para ocorrer em agosto ou setembro passados, mas o edital nem chegou a ser publicado. Agora, a promessa foi ampliada para ocorrer até 2022, com o lançamento do Programa SPU+, do Ministério da Economia.
O programa, ainda em fase de planejamento, visa trazer para os cofres públicos cerca de R$ 110 bilhões, por meio da venda, concessão ou atualização de aluguéis de imóveis da União. Entre os que devem ser vendidos, está o A Noite, um dos principais expoentes da arquitetura Art Decó no Brasil, avaliado em R$ 90 milhões.
O atraso na venda do A Noite não foi explicado pelo Ministério da Economia, apesar de ter sido anunciado em junho pelo presidente Jair Bolsonaro. O prédio, que pertence ao Governo Federal e não é ocupado desde 2012, cria um cenário de abandono na Praça Mauá, ponto principal das reformas urbanas promovidas pelo projeto Porto Maravilha, no qual foram investidos cerca de R$ 8,5 bilhões.
O modelo de venda anunciado agora pelo Governo é o da Lei nº 14.011/20, sancionada em junho deste ano. Ela simplifica o processo de venda dos imóveis da União e autoriza Estados, Municípios e iniciativa privada a firmar contratos e convênios com a SPU para “executar ações de demarcação, de cadastramento, de avaliação, de venda e de fiscalização de áreas do patrimônio da União, assim como para o planejamento, a execução e a aprovação dos parcelamentos urbanos e rurais”.

No mercado imobiliário, há muitas apostas quanto ao futuro do prédio, que segue indefinido. A torcida maior é para que seja transformado em um empreendimento residencial de luxo, o que o tornaria uma âncora para novos lançamentos de moradias na região central da cidade.
Edifício A Noite e as radionovelas
Ao ser inaugurado em 1929, o edifício A Noite era o mais alto da América Latina, com 102 metros e 6 elevadores. O imóvel possui 28 mil m² e foi projetado pelo arquiteto Joseph Gire, o mesmo do Copacabana Palace. O nome oficial do prédio é o mesmo do seu arquiteto.
O edifício passou a ser conhecido popularmente por A Noite, ao ser sede desse jornal, ainda no final dos anos 20 do século passado. Por muito tempo, ele foi também a casa da Rádio Nacional, a rádio de maior audiência do país no período áureo desse meio de comunicação. Por seus estúdios se apresentaram estrelas como Franciso Alves, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e Cauby Peixoto. Ali foram ao ar as primeiras radionovelas, como “Em Busca da Felicidade” e “O Direito de Nascer”.
Desde 2012, o edifício A Noite sofre com o abandono e não é mais ocupado por órgãos do Governo Federal, seu proprietário. O esvaziamento causa problemas em seu entorno, para moradores e comerciantes. Há o temor de que a falta de manutenção adequada possa causar danos irreversíveis ao prédio.
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