Nas esquinas de Tóquio
Vicente Dattoli
Conquistar ao menos 13 de medalhas de ouro para alcançar a icônica marca de 100 primeiros lugares na história da Paralímpiada. Feito.
Superar a conquista de 21 medalhas douradas, para bater o recorde estabelecido em Londres, 2012. Feito.
Somar, entre ouro, prata e bronze, ao menos 72 medalhas, para igualar em quantidade a participação na Rio 2016. Feito.
Subir ao pódio em mais de 50% dos esportes nos quais estávamos participando. Feito.
Uma rápida listagem de feitos (sem trocadilhos) mostra que a participação da equipe brasileira nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020/2021 foi um sucesso. Quando Yeltsin Jacques faturou nosso 100º ouro paralímpico, vários dos outros sonhos eram apenas… Sonhos. Só que as conquistas não pararam, muito pelo contrário.
Se é verdade que fica a tristeza com o adeus de Daniel Dias, nosso maior medalhista da história (nada menos do que 27 pódios), devemos festejar a chegada de novas estrelas, como a pernambucana Carol Santiago, que só no Japão, em sua primeira Paralimpíada, já trouxe cinco medalhas (três de ouro) para casa. Podemos até, vejam só, reclamar da arbitragem.
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Que venha Paris!
Falo, claro, da retirada, na mão grande, do ouro de Thiago Paulino no peso. Ele dormiu campeão e recordista mundial, acordou em terceiro lugar. Mas registrou sua indignação, pisando forte no lugar do primeiro colocado, que deveria ser seu, e mostrou que o ouro deveria estar no seu peito.
Foram dias de encantamento e respeito. Encantamento por ver que todos somos capazes. Respeito pelo que a capacidade daqueles atletas pode fazer. E nós do Diário do Porto, mesmo não sendo um site especializado em esportes, acompanhamos cada um deles, como havíamos feito na Olimpíada. Igualdade é isso, certo?
Os japoneses superaram, mais uma vez (já o haviam feito nos Jogos Olímpicos, há um mês), os seus próprios temores e inseguranças e entregaram ao mundo uma competição de alto nível e beleza.
Recordes batidos a toda hora (aliás, como última registro, nossa prata na maratona com Alex Douglas, que nos levou a igualar o total de 72 conquistas do Rio) – e aqui sim podemos e devemos usar a palavra superação. Acabou, infelizmente.
Tóquio agora já é história. Que venha Paris, daqui a três anos, com novas novas listagens, novos objetivos e ainda mais respeito.