APA de Guapi-Mirim, vida e beleza do Pantanal Fluminense | Diário do Porto


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APA de Guapi-Mirim, vida e beleza do Pantanal Fluminense

Paraiso do turismo ecológico na Baía de Guanabara, APA de Guapi-Mirim une municípios de Guapimirim, Magé, Itaboraí e São Gonçalo

5 de janeiro de 2023

Vegetação da APA Guapimirim, tendo aos fundos a Serra dos Órgãos (foto: ICMBio)

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Eliane Lobato

Pantanal Fluminense é um nome fantasia, comercial, turístico e muito divulgado. Na realidade, o Rio de Janeiro não tem bioma com fauna, flora, clima e solo de pantanal, como o território mato-grossense, onde se localiza o único do Brasil. Mas a faixa que fica na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, entre o município de Guapimirim e os vizinhos Magé, Itaboraí e São Gonçalo, tem as belezas e o ecossistema que fazem justiça à associação. Se você fizer um passeio de barco pelos rios e manguezais na região e, depois, postar em suas redes sociais dizendo que esteve na Amazônia ou no Mato Grosso, poucos vão duvidar.

São botos, jacarés, espécies raras de peixes, diversidade espetacular de aves e plantas, além do Mangue. Tudo isso cria um cenário preservado e lindo como o encontrado em outros paraísos ecológicos. No entanto, o chamado Pantanal Fluminense está na Baixada Fluminense e na Baía da Guanabara. São dois lugares conhecidos mais por fatores negativos, como crescimento desordenado e poluição. Ainda assim, possuem esta pérola ambiental.

Observação de botos

A resistência e a preservação se devem à luta de instituições. Entre elas está a Associação de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, criada em 1984 como primeira unidade de conservação de manguezais do Brasil. Guapimirim não é considerado um grande ponto turístico, mas deveria ser. Em passeios de barcos pelos rios, feito por agências de turismo ou barqueiros locais, o visitante adentra um admirável mundo novo, embora esteja lá há milênios. Igualzinho.

A GuapimirimTur, fundada por Rafael Coelho, 35 anos, oferece opções de passeios a barco no local. A mais requisitada é a “Pantanal Fluminense com observação dos botos”, que começa às 7h para apreciar, mas sem atrapalhar, o “café da manhã” dos botos-cinza. É quando eles estão animados e saltitantes no fundo da Baía da Guanabara, e os visitantes, apenas quatro por vez, podem fotografar e assistir à festa.

Essa opção foi a escolhida pela publicitária carioca Taísa Prado. “Você se sente transportada para outro mundo. Vi árvores e pássaros típicos lindos, águas cristalinas na Baía da Guanabara. Já fui ao Pantanal de Mato Grosso e posso garantir que é igual”, descreve ela. “O silêncio foi o que mais me surpreendeu”, diz ela. O passeio mostra, também, como funciona o controle dos currais de pesca, o habitat do jacaré-de-papo-amarelo, os pescadores e caranguejeiros que tiram seu sustento dessa região.

Único manguezal na Baía

Rafael, o fundador, destaca que a APA de Guapi-Mirim mantém o único manguezal preservado do entorno da Baía. “Na década de 1980, havia mais de 500 golfinhos em suas águas, e hoje são apenas uns 30 sobreviventes.” Vale lembrar que este animal ameaçado de extinção é o símbolo do Rio de Janeiro, presente na bandeira do Estado.

“Trabalhamos com sete barcos e não fazemos turismo de massa”, diz Rafael, jornalista que virou ambientalista. “Depois de um passeio desses, o turista sai compreendendo que todo papel de bala deixado no chão compromete a vida”, afirma. Passar mensagens de responsabilidade verde é um dos seus objetivos.

O passeio “Mel do Manguezal” é comandado por Dona Creuza e Seu Sidinho, do distrito do Vale das Pedrinhas, responsáveis pelo trabalho de apicultura da região. O visitante pode provar, e comprar, o puro mel lá produzido. Todos precisam usar um macacão especial para apicultores, além de luvas e botas, para chegar perto das colmeias de abelhas “africanizadas”, resultantes do cruzamento entre espécies europeias e africanas e totalmente adaptadas no Brasil.

Estação Ecológica da Guanabara

Já a viagem “Arca de Noé” revela animais que só vivem ali, como algumas espécies de cavalos-marinhos, aquele lindo gênero de peixe que nada em pé. Isso, apesar dos quase 20 milhões de litros de esgoto despejados diariamente na Baía.

A APA de Guapi-Mirim criou, em 2006, um “braço” para proteger exclusivamente a área de manguezais no recôncavo da Baía, a Estação Ecológica da Guanabara. Essa é a forma de continuar assegurando a sobrevivência também de populações humanas que vivem no ecossistema, como os pescadores artesanais. O ambientalista Rogério Rocco, advogado do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), diz que “a Estação cuida de um grande fragmento do que havia de manguezais, verdadeiro berçário marinho na Baía da Guanabara.”

O trabalho do ICMBio é de recuperação, conservação e fiscalização. Rogério reconhece que é difícil, mas afirma que não há luta perdida. “Enfrentamos uma avalanche de adversidades. Nosso desafio é resistir às agressões de atividades que se localizam na Baía ou de outras que pressionam para se localizar lá.”  Ele considera que entre as pérolas locais estão os rios que fazem curvas. “Não se vê mais isso em centros urbanos porque os rios são retificados. Naquela região, os rios seguem serpenteando as terras exatamente como nasceram. Onde estão os mais lindos rios? Estão na Baixada Fluminense e na Baía da Guanabara.”

Atrações de Guapimirim

Guapimirim é uma cidade repleta de preciosidades naturais pouco conhecidas. Algumas são famosas, mas atribuídas a outro município, como é o caso do pico Dedo de Deus, cujo contorno se assemelha a uma mão apontando o dedo indicador para o céu. Ele se situa em território guapimiriense, embora haja até folhetos turísticos que o localizam em Teresópolis, de onde é possível avistá-lo no formato mais impressionante.

Ou o Mirante do Soberbo, no alto da Serra de  Guapimirim, e a Capela de Nossa Senhora da Conceição do Soberbo, construída em 1713 no mesmo local. Os primeiros batismos da Família Real e da corte portuguesa teriam ocorrido neste pequeno e simples templo de grande valor cultural. Segundo Rafael, o lugar permanece igual ao encontrado pelos descobridores portugueses, mas, por sorte, sem monarquia.

 

INFORMAÇÕES ÚTEIS

GUAPIMIRIM TUR

Endereço: Rua Cmte. Barcelar, 519 – Centro

Contatos:

(21) 98827-5699 – Agência Guaimirim Tur

 

Passeios:

Pantanal com observação de botos e Arca de Noé

Duração: 2h30

Serviços inclusos: guia, explanações, barco e colete salva-vidas

Preço por pessoa: R$ 110,00

Crianças até 3 anos não pagam por irem no colo. De 4 a 7 anos têm 50% de desconto.

 

Mel do Manguezal

Duração: 2 horas

Serviços inclusos: condutores locais, barco, colete salva-vidas, degustações e acessórios de segurança

Preço por pessoa: R$ 70,00

É aconselhável fazer a reserva com dois dias de antecedência

Local de encontro: Vale das Pedrinhas

Referência: Às margens da Rodovia BR-493. Distante 25 km do centro de Guapimirim

OBS: www.gov.br/pt-br/servicos/solicitar-autorizacao-de-uso-de-imagem-em-unidades-de-conservacao-federais

 

GUAPIMIRIM

População: 61.388 habitantes (IBGE/2020)

Distância da capital: 50 km

Aniversário: 25 de novembro

Área total: 358,352 km2 sendo que 80% da cidade estão em área protegida

 

APA de Guapi-Mirim

Localização: 14,3 mil hectares nos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo.

Fundação: 25 de setembro de 1984 (Decreto 90.225)

  • Baseado em roteiro da Avenida Comunicação para o projeto SESC RJ na Estrada