Diário do Porto

Almirante Negro, líder antirracista, é valorizado pelo MPF

João Cândido, o Almirante Negro, caminha entre militares após a Revolta da Chibata, em 1910 (foto: Arquivo Nacional)

O Ministério Público Federal (MPF) enviou um parecer ao Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania pedindo medidas de reparação e valorização da memória de João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, que ficou conhecido como o Almirante Negro. A revolta, que tomou os navios de guerra na Baía de Guanabara em 1910, pedia o fim dos castigos físicos e do racismo na Marinha do Brasil. 

O documento faz parte de um inquérito civil aberto no ano passado pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Estado do Rio, órgão do MPF. Os procuradores solicitaram a criação de um museu sobre a atuação do Almirante Negro e a sua declaração como anistiado político. Essa segunda decisão daria direito a uma pensão a seus descendentes. Um dos filhos de Cândido, Adalberto Nascimento Cândido, está vivo, com 85 anos e mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

A Revolta da Chibata aconteceu após dois anos de mobilização dos marinheiros de baixa patente, que encaminharam pedidos ao Governo Federal para que fossem extintos os castigos físicos e para que houvesse melhores condições de trabalho. Na época, 90% dos marinheiros de baixa patente eram pretos e 100% dos oficiais eram brancos. No manifesto dos revoltosos, há a menção de que a escravidão já não era legal no Brasil, mas suas práticas racistas e violentas continuavam habituais na Marinha.

Almirante Negro foi homenageado no samba “Mestre-Sala dos Mares”

Sem respostas às reivindicações, os marinheiros tomaram os navios de guerra na Baía de Guanabara e tiveram em João Cândido um de seus líderes mais expressivos, sendo então chamado de Almirante Negro pela imprensa carioca. Para controlar o movimento, o Governo Federal propôs um acordo aceitando suas condições, mas tão logo a situação voltou ao normal, mandou prender os líderes e expulsar os revoltosos da Marinha. A traição e a perseguição contra o Almirante Negro continuou pelas décadas seguintes, pois houve constante pressões para que ele não conseguisse um novo emprego. Ele, que morreu em 1969, sobreviveu anos como pescador e vendedor de peixes, no Centro do Rio.

O MPF também quer a inclusão do nome de Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Essa medida depende de aprovação do Congresso Nacional, que deve debater o tema em uma audiência no próximo dia 24. O livro simbólico, que fica em Brasília, tem entre seus homenageados Zumbi, Tiradentes e outras figuras da história do Brasil.

A contínua perseguição contra João Cândido chegou a mobilizar a Censura, durante a ditadura. Em 1973, Aldir Blanc e João Bosco compuseram um samba em sua homenagem, “Mestre-Sala dos Mares”. Para poder ser aprovada, a letra teve que ser modificada e, no lugar de Almirante Negro, João Cândido é chamado de Navegante Negro, para não melindrar os militares. Os censores justificaram a interdição à obra por causa do seu “conteúdo esdrúxulo” e das menções à negritude.


LEIA TAMBÉM:

Galeão pode superar US$ 12 bilhões em cargas neste ano

Angra dos Reis recupera a praia do Anil

Madonna faz hotéis do Rio terem 100% de ocupação

 

Sair da versão mobile