A Bossa pelas ruas do Rio | Diário do Porto


Música

A Bossa pelas ruas do Rio

Declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, a Bossa Nova deixa suas marcas no Rio de Janeiro desde 1958

29 de agosto de 2023

Ícone da Bossa Nova, o compositor e maestro Tom Jobim foi homenageado com uma estátua na Praia de Ipanema em 2014 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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Carolina Smolentzov

Ritmo tipicamente carioca, a Bossa Nova agora faz parte do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A lei, sancionada pelo governador Cláudio Castro, reconhece a relevância do gênero musical, que nasceu em Copacabana no final dos anos 1950 e se tornou um símbolo da Cidade Maravilhosa. Uma das músicas mais marcantes desse movimento é Garota de Ipanema, composta por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, em 1962.

Passados quase 70 anos, a Bossa Nova deixou marcas na história e na cultura do Rio de Janeiro e que continuam presentes na cidade. Filha do samba carioca e do jazz norte-americano, esta nova sonoridade também logo se espalhou pelo Brasil e pelo mundo.

O movimento é marcado pelo lançamento da música Chega de Saudade, gravada por João Gilberto em 1958. Depois dele, a Bossa Nova consagrou nomes na música brasileira como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Os cenários dessas mudanças continuam vivos no Rio e guardam as memórias de um tempo que mudou a música brasileira: o apartamento da cantora Nara Leão, o Beco das Garrafas e o Arpoador, para citar alguns.

Confira um roteiro para conhecer o a Bossa Nova presente nas ruas do Rio e mergulhar no mundo musical do “amor, do sorriso e da flor”.

Bar Garota de Ipanema

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Letra da música escrita no bar (Foto: Reprodução/Instagram)

“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela, menina, que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar

Moça do corpo dourado, do Sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar”

Música: Garota de Ipanema

Em 1962, um encontro entre Tom Jobim e Vinícius de Moraes no antigo Bar Veloso, hoje Bar Garota de Ipanema, ficou marcado para sempre na história da música brasileira.

Foi ali que, encantados pela linda e cheia de graça Helô Pinheiro, Tom e Vinicius escreveram os versos associados até hoje com o Rio de Janeiro e o Brasil. Em 1965, a versão em inglês da faixa, The Girl from Ipanema, ganhou um Grammy de gravação do ano. O clássico da Bossa Nova superou gigantes da música como The Beatles, Frank Sinatra e Elvis Presley, que concorriam no mesmo ano.

Garota de Ipanema é a música brasileira mais gravada na história, de acordo com o Ecad.

A lenda atrai turistas e visitantes até hoje, que podem aproveitar um chope ao lado de um fragmento da história pendurado na parede: a letra da música escrita naquela manhã de verão. O bar fica na Rua Vinícius de Moraes 49.

Estátua Tom Jobim no Arpoador

Localizada no fim da praia de Ipanema, a estátua em tamanho real retrata o compositor quando jovem (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

“Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar,
E das estrelas que esquecemos de contar.
O amor se deixa surpreender,
Enquanto a noite vem nos envolver”

Música: Wave

Inaugurada em dezembro de 2014, a estátua do maestro e compositor Antonio Carlos Jobim fica em um ponto privilegiado da Praia de Ipanema: o Arpoador.

A estátua em bronze em tamanho real mostra o músico caminhando com uma guitarra no ombro. A artista responsável pela obra, Christina Motta, quis retratar Tom Jobim no auge do sucesso. A inspiração veio de uma foto tirada em 1961, pouco antes do lançamento de Garota de Ipanema, quando Tom tinha 33 anos.

O mar e a praia são temas frequentes da Bossa Nova e da poesia de Tom Jobim, como é o caso da letra de Wave, de 1967.

Beco das Garrafas

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Beco das Garrafas, em Copacabana, tem programação musical variada (Foto: Divulgação)

“Foi a noite, foi o mar eu sei
Foi a lua que me fez pensar
Que você me queria outra vez
E que ainda gostava de mim
Ilusão eu bebi talvez
Foi amor por você bem sei”

Música: Foi a Noite

Tradicional ponto de encontro da noite carioca, o Beco das Garrafas é considerado o berço da Bossa Nova. Inaugurado no fim da década de 1950, a travessa sem saída abrigava os bares Ma Griffe, Bacará, Little ClubeBottle’s entre os números 21 ao 37 na Rua Duvivier em Copacabana.

Aqueles que queriam tentar a sorte na música se encontravam por lá para uma chance de subir em um dos concorrido palcos das casas de shows. A confusão dava o que falar. Enfurecidos pelo barulho causado pela fama dos boêmios, os vizinhos jogavam garrafas na direção dos bares. Assim surgiu o nome do Beco, cunhado pelo cronista Sérgio Porto.

Além do início da parceria entre Vinícius de Moraes e Baden Powell, os pequenos palcos do Beco receberam nomes como Sergio Mendes, Luis Carlos Vinhas, Wilson das Neves, Ronaldo Bôscoli e Miele. Nos anos 60, artistas como Elis Regina, Sylvia Telles, Wilson Simonal, Leny Andrade e Maria Bethânia fizeram história no mesmo local.

O Beco das Garrafas passou por uma reforma e foi redescoberto pelo público, que agora pode aproveitar shows, como os do Bossa Mais, formado por Gustavo Martins, Márcio Bahia e Zé Luiz Maia, e conhecer novos talentos todas as semanas.

Apartamento de Tom Jobim

Tom na casa da rua Nascimento Silva 107, em Ipanema (Foto: Luiz Santos/ Instituto Antonio Carlos Jobim)

“Rua Nascimento Silva, cento e sete
E você ensinando pra Elizete
As canções de canção do amor demais
Lembra que tempo feliz, ai que saudade
Ipanema era só felicidade
Era como se o amor doesse em paz”

Música: Carta ao Tom 74

O endereço onde morava Tom Jobim, um prédio de três andares na Rua Nascimento Silva, no coração de Ipanema, foi imortalizado na música “Carta ao Tom”, parceria de Vinícius de Moraes e Toquinho. Hoje, o local é tombado pelo Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro.

Foi neste prédio, entre 1953 e 1962, que Tom firmou parcerias com Vinícius, Dolores Duran, Billy Blanco, além de criar clássicos como Insensatez e Desafinado.

No terceiro andar deste mesmo prédio, morava a cantora Elizeth Cardoso. A célebre vizinha gravou em 1958 o disco Canção do Amor Demais, com composições de Vinícius de Moraes e Tom Jobim feitas no endereço. O LP é considerado o primeiro registro da nova sonoridade de violão desconstruído de João Gilberto, que posteriormente simbolizaria a Bossa Nova.

O imóvel ainda está no local, mas não está aberto ao público.

Apartamento de Nara Leão

Nara Leão fez de seu apartamento, em Copacabana, um quartel general da Bossa Nova (Foto: Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional)

“Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção”

Música: O Barquinho

Em frente ao mar de Copacabana, no Posto 4 da Avenida Atlântica, no edifício Champs-Elysées, o apartamento dos pais da cantora Nara Leão foi palco de reuniões entre jovens músicos na década de 1950, que, futuramente, se tornariam grandes nomes da Bossa Nova.

Era lá que se reuniam Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Sérgio Mendes e muitos outros para tocar, compor e criar em sessões que atravessavam a madrugada.

O lugar funcionava como uma espécie de quartel general da Bossa Nova. Segundo os artistas, a vista do apartamento era uma fonte inesgotável de inspiração, o que gerou canções como O Barquinho, sucesso de Bôscoli e Menescal que alavancou a dupla à fama.


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