Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida para melhorar um pouco a vida de 32 milhões de brasileiros que, segundo o Ipea, estavam abaixo da linha da pobreza. Com o slogan “Quem tempo fome tem pressa”, ele mobilizou a sociedade em um movimento nacional de arrecadação de alimentos e de amor, que inspirou a Comunidade Solidária no governo Fernando Henrique Cardoso e os programas sociais do governo Lula. Em 2003, a Ação da Cidadania recebeu do governo federal o antigo Armazém Docas Dom Pedro II, na Zona Portuária do Rio, que foi reformado para nele funcionar a sede da ONG e o Centro Cultural Ação da Cidadania (CCAC).
Betinho era hemofílico, como os irmãos Henfil e Chico Mário, e contraiu HIV em transfusão de sangue. Morreu em 1997, mas sua mensagem ficou e continua transformando o Brasil. A Ação da Cidadania hoje está presente em 17 estados, cada um atuando com independência, de acordo com as necessidades de sua região. No Rio de Janeiro, 200 comitês agem em 15 municípios, atendendo a 10 mil famílias ou 40 mil pessoas. Os comitês desenvolvem ações regulares nas áreas da saúde, educação, cultura e geração de emprego e renda, beneficiando grupos de idosos, mulheres, crianças e jovens das comunidades.
O presidente do Conselho Deliberativo da ONG é Daniel Souza, filho de Betinho. Em 2017, a campanha Natal sem Fome, a mais visível do movimento, foi abraçada por mais de 60 atrizes, atores e cantores. Entre eles estão Chico Buarque, Caetano Veloso, Daniela Mercury e Carlinhos Brown.
As instalações do CCAC são utilizadas em eventos, filmagens, festas, festivais, feiras, encontros, seminários e congressos, e também têm história. O galpão foi construído pelo primeiro engenheiro afrodescendente no país, André Rebouças. Fica na histórica Avenida Barão de Tefé, a mesma do Cais do Valongo, e sua reforma contou com o talento do arquiteto Hélio Pelegrino e patrocínio da Petrobras e outras empresas. É um dos espaços multifuncionais mais bonitos e amplos do Rio. As obras estruturais custaram R$ 4,2 milhões, incluindo a troca de todo o telhado e das instalações elétrica e hidráulica. As pilastras, pisos e paredes foram revestidos por Pelegrino com materiais reciclados e de demolição.