Porto do Açu: resistência rende medalha a professora | Diário do Porto


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Porto do Açu: resistência rende medalha a professora

Noemia Magalhães foi a única entre 410 proprietários rurais que não vendeu seu sítio para o Porto do Açu, em São João da Barra

17 de maio de 2024

Por resistir à expansão do Porto do Açu, Noemia Magalhães, de braço levantado, recebeu homenagem na Alerj (foto: Divulgação)

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A Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) prestou uma homenagem a Noemia Magalhães, moradora de São João da Barra, no Norte Fluminense, conhecida na região por defender o meio ambiente e por ser a única proprietária que se recusou a vender seu sítio para o Porto do Açu. Aos 78 anos, ela recebeu a Medalha Tiradentes, a principal do Estado.

Professora aposentada, Noemia vive no município há 30 anos, em local que escolheu para construir o Sítio do Birica, onde pretendia desfrutar em paz os seus dias, depois de ter se dedicado ao magistério. Hoje, sua propriedade é uma área isolada, em um entorno vazio de 60 quilômetros quadrados, onde antes ficavam outras 409 propriedades rurais. Todos os seus vizinhos venderam suas terras para o Porto do Açu, menos ela que decidiu manter seu sonho de viver na natureza, mesmo que seja na solidão.

O Porto do Açu comprou as terras para um projeto de distrito industrial, que até hoje não foi realizado. Isolada em seu sítio, Noemia vive de uma maneira simples e sustentável, alimentando-se daquilo que planta em sua horta e colhe em seu sítio.

Porto do Açu não realizou o projeto do distrito industrial

Em 2016, a história de Noemia foi contada pelo jornal O Globo. Por ter ficado no caminho do Porto Açu, negócio bilionário, contou ter ouvido propostas ameaçadoras e pressão psicológica. Sempre que o sol se vai, ela fica numa ilha cercada pela noite escura.

O jornal relatou que a história lembra a de Clara, interpretada por Sônia Braga no filme “Aquarius”. No longa de Kleber Mendonça Filho, a personagem desafia as propostas de uma construtora que pretende fazer um novo edifício no lugar do prédio antigo em que ela vive, na Praia de Boa Viagem, no Recife. A personagem enfrenta a construtora e não abre mão de sua residência, local cheio de memórias afetivas e de referências de vida.

Na vida real, Noêmia enfrenta há seis anos os planos do Porto do Açu, um megaempreendimento que, no início, pertenceu a Eike Batista e, após a derrocada do empresário, passou às mãos da Prumo Logística, controlada por um fundo americano. Qualquer semelhança entre os enredos é mera coincidência. Noêmia ainda nem assistiu ao filme. Mas já sabe que, dependendo dela, as duas histórias terão um mesmo fim, de resistência.


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