Carolina Brasil
Imponente, histórico e um tanto intimidador, o prédio do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, carrega um mistério singular. Inaugurado em 1909 e tombado nas três esferas de governo – municipal, estadual e federal – a instituição é herança de uma época em que governantes tinham a pretensão de transformar o Rio de Janeiro na Paris dos trópicos. Esta ambição ficou para trás, substituída por outra menos fantasiosa: tornar o espaço acessível a todos os públicos. Pelo menos, é o que a presidente da Fundação Theatro Municipal, Clara Paulino, pretende.
Na função de gestora, Clara desenvolveu uma política de democratização de acesso para quebrar barreiras. “As pessoas muitas vezes se sentem desconfortáveis em vir ao Theatro, mas queremos enfatizar que é um lugar para todos. Precisamos entender que este espaço é nosso, e pode ser utilizado para descansar na hora do almoço no Boulevard, fazer uma visita guiada, trazer os filhos num sábado ou para assistir uma ópera, um show, uma peça – como bem quiser”, afirma.
Atualmente, ingressos para espetáculos produzidos pelo Theatro tem preço máximo de R$ 100, e mínimo de R$ 15, valores inteiros. A visão de um espaço para as elites tem origem histórica: a construção do Theatro se deu no contexto das reformas do prefeito Pereira Passos, responsável por mudar radicalmente a aparência do Centro da cidade no início do século XX. É o que explica Jordana Menezes, do Setor Educativo da Instituição. “Hoje em dia temos uma visão mais crítica. Sabemos que foi uma reforma higienista. O prefeito destrói os cortiços para construção da Avenida Central e o Theatro é feito na época da República com muito dinheiro e investimento federal para ser um símbolo desse novo sistema”.
Para demonstrar a grandiosidade do projeto, foram utilizados apenas materiais importados, com artesãos europeus recrutados para a criação dos vitrais e mosaicos. A riqueza de detalhes e ornamentos chama a atenção a cada canto percorrido. A esta beleza, somam-se obras feitas especialmente para o Theatro por consagrados artistas da época, como Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e os irmãos Bernardelli.
O resultado foi um edifício eclético, movimento caracterizado pela mistura de várias referências arquitetônicas do passado de forma anacrônica. Arte clássica, art nouveau, barroco, neoclássico: todos têm um espaço. Esse estilo caracteriza também os outros prédios da Praça Floriano, como a Câmara Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes, que foram construídos na mesma época e fazem parte desse movimento.
Mesmo vizinho de ícones cariocas, o Theatro Municipal ainda sofre com obstáculos para estimular a movimentação turística. De acordo com Clara Paulino, a pandemia causou um esvaziamento da Cinelândia. “O movimento na área pode melhorar bastante. As pessoas não se sentem confortáveis ao se deslocarem para a Cinelândia. Principalmente no fim de semana, ficamos isolados, já que os outros equipamentos culturais não têm atividade. Para o turismo, isso é péssimo. Investimentos são necessários: qualificação de guias, sinalização e placas, e duas coisas que são sempre um gargalo – segurança e mobilidade”, avalia.
Em diálogo com a Câmara dos Vereadores, foi aprovado um projeto que cria um Quadrilátero Cultural que interliga prédios históricos como o Theatro Municipal, Cine Odeon, Biblioteca Nacional, Centro Cultural da Justiça Federal e o Palácio Pedro Ernesto. Clara explica que o objetivo é fomentar um movimento de diálogo entre diversos setores de forma a ocupar de novo o espaço da Cinelândia. O projeto será incluído no Guia Oficial e no Roteiro Turístico e Cultural do Município do Rio de Janeiro, o que possibilita parcerias com o setor privado e outras iniciativas para fomentar atividades na região.
Hoje, o Theatro Municipal conta com três corpos artísticos, que realizam temporadas oficiais: a Orquestra Sinfônica; o Coro, que completou 90 anos; e o Ballet, que, com 87 anos de existência, é o caçula dos três. Além disso, outras exibições e espetáculos sempre fazem parte da programação, que é possível conferir no site e nas redes sociais.
Para conhecer o edifício por dentro, é preciso fazer uma visita guiada que ocorre normalmente de terça-feira a sábado, em diferentes horários. A visitação é liderada por educadores, como é o caso de Jordana Menezes. “Em toda visita, falo que o Theatro é de todos. A visita é a porta de entrada para muitas pessoas, porque o prédio é muito imponente, então se cria essa ideia de que ele é para só certas pessoas, mas queremos todos aqui. O importante é vir”.
O cronograma regular está sujeito a alterações em função da programação da instituição. Por isso, é recomendado verificar as redes, principalmente o Instagram, onde são informadas eventuais modificações. O ingresso para as visitas não pode ser comprado on-line, somente na bilheteria, localizada no Boulevard, na Avenida 13 de Maio, no mesmo dia da visitação.
As entradas custam R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia. Uma parceria com o Retiro dos Artistas permite meia-entrada levando 1kg de alimento não perecível. Em datas específicas, são realizadas visitas especiais e temáticas: Visita de História da Arte, Visita Brincada e Visita aos Bastidores. Neste caso, os dias são estabelecidos conforme o cronograma mensal do educativo, disponibilizado nas redes sociais do Theatro, e são disponibilizadas vendas on-line. A instituição oferece, ainda, uma visita virtual 3D gratuita e disponível para todos na página inicial site.
Theatro Municipal
Endereço: Praça Floriano S/N, Centro
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h
Site: www.theatromunicipal.rj.gov.br
Instagram: @theatromunicipalrj
Contato: informacoestmrj@gmail.com
(21)2332-9191 / (21) 2332-9005