Aziz Filho
Se animais fossem joias, uma das mais preciosas seria um bichinho lindo e simpático que só existe no Rio de Janeiro. Não por causa da cor vibrante do ouro, mas por ser raro. Infelizmente, muito raro. Com a devastação da natureza, o mico-leão-dourado quase foi extinto, mas hoje há uns 2.500 deles vivendo em fragmentos de florestas, entre a Serra do Mar e a Região dos Lagos. A sobrevivência deste símbolo da Mata Atlântica se deve à luta de muitas pessoas e entidades. Uma delas é a Associação Mico-Leão-Dourado, no município de Silva Jardim.
A Associação nasceu há 30 anos com a missão de proteger a Mata Atlântica para salvar o mico-leão-dourado. Após um período fechado para proteger os animais do coronavírus, no ano passado foi reaberto para para visitação o Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado. Ele fica em uma propriedade da Associação em frente à Reserva Biológica de Poço das Antas, a primeira do país, com 5 mil hectares. Nela vive também outro bicho ameaçado, o preguiça-de-coleira.
A luta pela preservação foi tão vigorosa que levou a concessionária da BR 101 a construir em Silva Jardim o primeiro viaduto brasileiro para travessia de animais. Bichos como onça parda, capivara, preguiça-de-coleira, tamanduá-mirim e tatu podem atravessar a rodovia em segurança. Assim como o mico-leão-dourado, claro.
Biodiversidade
Luís Paulo Ferraz, biólogo e secretário executivo da Associação, explica que a redução de impactos ambientais em obras de infraestrutura é comum em vários países. Não poderia ser diferente no Brasil, que tem a maior biodiversidade do planeta. “A adequação das obras à conservação da biodiversidade está prevista em lei como obrigação dos empreendimentos. Em outros países, essas mesmas empresas também têm esses compromissos; é um consenso mundial.”
Nos anos 1970, a estimativa era de existência de cerca de 200 micos na Mata Atlântica. Uma mobilização mundial permitiu a reintrodução de animais vindos de zoológicos de várias partes do mundo. A turminha foi crescendo e chegou a alcançar cerca de 3.700 indivíduos, mas em 2017 um surto de febre amarela reduziu o número para 2.500 micos. O animal continua ameaçado, mas em Silva Jardim virou uma joia do ecoturismo. Veja imagens neste vídeo.
O passeio guiado pelo paraíso do Mico-Leão-Dourado passou alguns anos suspenso por causa do novo coronavírus. “Como não sabemos se o macaco pega ou não o novo coronavírus, tivemos que evitar a presença humana. Mas, com o afastamento do risco, reabrimos porque o turismo consciente é uma ferramenta importante para a preservação”, explica o geógrafo.
Indiana Jones e o mico-leão-dourado
Sabe quem também pensa assim, e que veio a Silva Jardim conhecer esse trabalho maravilhoso? O Indiana Jones em pessoa! Em 2013, o ator americano Harrison Ford esteve no local e até plantou uma muda de árvore na Mata Atlântica.
Desde o ano 2000, a Associação Mico-Leão-Dourado tem um Programa de Ecoturismo com operadoras cadastradas que trazem visitantes para conhecer grupos de micos-leões. A visita também pode ser agendada diretamente pelo site. O plano é receber grupos de crianças e jovens do Brasil e do exterior. As visitas de ecoturistas começam pela sede da Associação e incluem palestras, exposições, compras na mico-lojinha e, claro, passeio pela mata com guias especializados e baixo grau de dificuldade.
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O programa pode incluir visitas a fazendas, agroflorestas e famílias de agricultores de Silva Jardim e Casimiro de Abreu. Há ações importantes para a recuperação da Mata, com plantio de mudas da Mata Atlântica, como “bebês” de ipês e de baba de boi.
O Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado fica a 124 quilômetros do Rio e a 23 de Silva Jardim. A dica para quem vai a Silva Jardim conhecer o projeto é passar a noite na Aldeia Velha, a 14 quilômetros, na estrada que leva a Nova Friburgo. É um vilarejo com menos de mil moradores, muitas cachoeiras, trilhas, pousadas, campings com ótimos preços e muito amor pela natureza.
“O ecoturismo é o que temos de mais valioso. Se não fosse ele, nem faria sentido alguém fazer turismo em nosso município. A forma de conservar a natureza tem que ser pela presença humana em harmonia com ela, e não sem o elemento humano”, diz a petropolitana Tadzia de Oliva Maya.
Tadzia chegou a Aldeia Velha há 10 anos, casou-se, teve dois filhos e se dedica a projetos ambientais. Ela destila óleos essenciais da vegetação da floresta e lançou uma versão local do famoso “jogo do mico”.
No jogo tradicional, todo animal tem um par, e perde o jogador que fica com a carta do mico, o único bichinho solteiro. Mas, no jogo de Silva Jardim, o mico-leão-dourado não fica desacompanhado. Ele tem uma companheira para se reproduzir e viver feliz para sempre.
A Associação Mico-Leão-Dourado vive de parcerias, projetos e doações. Você pode ver como ajudar no site www.micoleao.org.br