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A decadência do Galeão é fruto de política pública

O Galeão, que já foi a “porta de entrada do Brasil”, hoje é o 16º aeroporto do país. Falta reação, diz o artigo de Antonio Carlos de Faria

26 de fevereiro de 2023

O Galeão perdeu os voos nacionais para o Santos Dumont e os internacionais, para Guarulhos (foto: Agência Brasil)

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Galeão / Artigo

Antonio Carlos de Faria
     Antonio Carlos de Faria*

O Rio de Janeiro já se orgulhou de ser chamado de “a porta do Brasil”, pela qual a maior parte dos viajantes entrava ou saia do país. Isso foi uma verdade até uns 20 anos atrás, tempos em que o Galeão era o principal aeroporto brasileiro. De lá para cá, o Rio se permitiu ir ficando em plano secundário, numa autodepreciação sem fim. O resultado é que hoje o Galeão está na 16ª posição entre os aeroportos nacionais.

Mas o mais impressionante dessa decadência é que ela é fruto de uma política pública feita em silêncio e contrária aos interesses públicos, e não de fatores econômicos. A perda de voos para o exterior no Galeão se deu principalmente pela fuga de conexões nacionais, fator fundamental para alimentar as companhias aéreas internacionais.

Essa política pública tirou os voos nacionais do Galeão e os levou para o aeroporto Santos Dumont, hoje o quinto mais importante do país, superlotado e caótico. É por ele que passa atualmente a maior parte dos passageiros que chegam ou partem do Rio. Numa operação de conexão com Guarulhos, que tomou para si o título de o principal aeroporto do país.

Em resumo, o Rio se tornou uma província paulista, graças a uma política pública comandada por burocratas do Governo Federal e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a quem cabe regular os voos entre os aeroportos. Sem quase haver resistência, há mais de dez anos, esses burocratas estão inflando o Santos Dumont e esvaziando o Galeão, beneficiando principalmente São Paulo, atendendo a interesses que, sem dúvida, não são os da população do Estado do Rio.

A “porta do Brasil” agora está espalhada por vários Estados, mas com uma concentração maior em São Paulo. É para lá que migrou a maior parte dos voos internacionais que antes operavam a partir do Galeão. Essa transferência de riqueza (pois é disso que se trata) do Rio para os paulistas motivou a Alerj a aprovar um incentivo fiscal, reduzindo o valor do imposto para combustíveis, com o objetivo de atrair mais voos para o Rio, medida que, por vários fatores, não teve efeitos práticos. 

Sem mudança do cenário, estão ficando cada vez mais escassos os voos no Galeão, obrigando cariocas e fluminenses a fazerem escala em São Paulo, bem como tornando mais difícil a vinda de turistas para o Rio. Com menos voos de passageiros, também diminui o transporte aéreo de cargas, afetando diretamente as operações de importação e exportação do Estado.

Nos dois últimos anos, surgiram algumas vozes de protesto contra essa situação. Mas ainda parecem fracas e facilmente fadadas à ilusão. Por exemplo, há quem atualmente deposite toda a esperança de que a situação do Galeão será resolvida pelo ministro dos Portos e Aeroportos do atual Governo Federal, Márcio França, paulista e ex-governador de São Paulo. Se isso é o máximo que o Rio pode fazer, não será surpresa o que irá receber.

Ao mesmo tempo em que o Galeão e o Rio viveram esse processo de decadência, nas últimas duas décadas os mineiros consolidaram o fortalecimento do aeroporto internacional de Confins. Para isso, impuseram ao Governo Federal e à Anac a sua própria política pública, não aceitando a ingerência que poderia prejudicar os interesses de Minas Gerais.

O Rio tem muito o que aprender com os mineiros. Resta saber se há interesse.

*Editor do Diário do Porto


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